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Lula luta para evitar “independência” do União Brasil, 3ª maior partido na Câmara dos Deputados

Dez dos 18 nomes foram indicados por Bolsonaro após a derrota para Lula (foto) nas eleições de outubro. (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a articuladores políticos do governo que acelerem as negociações para impedir a perda de votos no Congresso com o racha do União Brasil. Nos bastidores, ministros do PT admitem que foi um erro ter depositado todas as fichas apenas em indicações feitas pelo senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e por Luciano Bivar (PE), presidente do partido.

Na tentativa de contornar uma dissidência na base aliada antes mesmo do início do ano legislativo, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, se reuniu anteontem com o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA). Vetado pelo PT da Bahia para comandar o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, o deputado é aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), expoente do Centrão, e tem forte influência sobre a bancada. Agora, o governo depende dele, em grande parte, para não perder apoio de deputados.

Com três ministérios no novo governo, o União Brasil vai anunciar independência em relação ao Palácio do Planalto, no fim deste mês, com a divulgação de um manifesto para dar um verniz programático ao partido e apresentar propostas, como a reforma tributária e a produção de energia limpa.

A bancada da Câmara se queixa de não ter sido consultada antes das nomeações para o primeiro escalão e afirma que em nenhum momento se comprometeu a aprovar propostas encaminhadas por Lula. O partido tem 59 deputados e dez senadores. É a terceira força política da Câmara, só perdendo para o PL e o PT.

“Nenhum filiado é proibido de participar do governo, mas a posição da bancada é de independência”, disse Elmar. Se não tivesse sido barrado pelo PT, o deputado – que foi relator da proposta de emenda à Constituição (PEC) da Transição – comandaria hoje o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional.

Uma operação de última hora liderada por Alcolumbre, porém, levou para a Integração o ex-governador do Amapá Waldez Góes, que é seu amigo. Filiado ao PDT, Góes entrou na cota do União como uma espécie de “barriga de aluguel”, com o compromisso de se afastar do antigo partido e ajudar a “pacificar” a sigla de Alcolumbre e Bivar.

Em 2019, o então governador foi condenado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) a seis anos e nove meses de prisão, em regime semiaberto, acusado de desviar recursos de empréstimos consignados de servidores estaduais. A ação foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e está paralisada na Corte.

Oferta

Para acalmar a “revolta” no União, que também não se sentiu contemplado com as indicações de Daniela do Waguinho (RJ) no Ministério do Turismo e de Juscelino Filho (MA) em Comunicações, o Planalto apresentou uma oferta a Elmar. Quer que ele mantenha o controle da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), conhecida como “estatal do Centrão”.

A autarquia foi uma das principais destinatárias dos recursos do orçamento secreto, como mostrou o Estadão, e acabou sendo alvo de investigações, após denúncias de superfaturamento na compra de tratores. Em conversas reservadas, no entanto, o grupo de Elmar afirma que, com o fim do orçamento secreto, a Codevasf ficou “esvaziada”.

No diagnóstico da cúpula do PT, uma ala do União Brasil está criando dificuldades e ameaçando “dar o troco” no plenário com o objetivo de mudar os ministros. Além de não querer ser vista como base aliada de Lula, essa corrente também ameaça formar um bloco com o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, e isolar o PT, em fevereiro, na disputa por cargos na Mesa da Câmara e em comissões, como a de Constituição e Justiça.

A esse imbróglio se soma a briga interna nas fileiras do União, que abriga o ex-ministro da Justiça e ex-juiz Sérgio Moro, senador eleito e inimigo de Lula. Defensor da aliança com o PT, Bivar, por sua vez, tentou destituir Elmar da liderança da Câmara. Queria emplacar na cadeira o deputado Pedro Lucas Fernandes (MA), mas não obteve sucesso na empreitada. Já Alcolumbre bateu o pé para encaixar Waldez Góes na Integração. No diagnóstico do Planalto, porém, Alcolumbre e Bivar não têm conseguido conter a rebelião no partido.

“O União era um aglomerado de várias tribos oriundas do DEM e do PSL, que se juntaram em 2021 para garantir a eleição”, resumiu o deputado Danilo Forte (União Brasil-CE). “Agora, estamos num momento de afirmação. Não queremos ser mais um balcão de negócios, de toma lá, dá cá”, completou ele.

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