Terça-feira, 14 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de junho de 2024
Com a comunicação do governo federal criticada até por aliados, o Palácio do Planalto promoveu ajustes que já estão em campo e devem ganhar força nos próximos meses. Em uma reedição da estratégia de comunicação adotada durante seu segundo governo, entre 2007 e 2010, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer intensificar a concessão de entrevistas, com atenção especial à mídia regional, sobretudo durante suas viagens pelo País – que também vão aumentar neste ano eleitoral.
Nos corredores do Planalto, os mais otimistas falam em pelo menos uma entrevista do presidente por semana, com o objetivo de tentar pautar o debate público. Uma pesquisa interna da Secretaria de Comunicação Social (Secom) mostra que entrevistas a rádios – que atualmente usam recursos de imagem – repercutem mais em todos os tipos de mídia.
Inicialmente, o governo apostava nas lives semanais nas redes sociais para deixar o presidente nos holofotes. O projeto Conversa com o Presidente chegou a mobilizar oito funcionários da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), incluindo o jornalista Marcos Uchôa (ex-TV Globo), mas foi um fiasco de público, desagradou a Lula e acabou extinto.
Auxiliares de Lula reconhecem, porém, que uma maior exposição do presidente aumenta o risco de “deslizes”. Um exemplo recente aconteceu durante entrevista à rádio CBN, quando o presidente criticava o projeto de lei que equipara o aborto após 22 semanas de gestação ao crime de homicídio simples. “Por que uma menina é obrigada a ter um filho de um cara que estuprou ela? Que monstro vai sair do ventre dessa menina?”, declarou o petista.
A associação dos termos “bebê” e “monstro” foi explorada pela oposição nas redes sociais. A plataforma Google Trends, que reúne dados de pesquisa no Google, mostrou um salto nas buscas das palavras “Lula” e “monstro”. A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), compartilhou uma versão editada da frase dita por Lula em que a palavra “monstro” não aparece.
A partir de agora, nas agendas fora de Brasília, o petista será acompanhado pelo ministro interino da Secom, o jornalista Laércio Portela. O novo ritmo de entrevistas ficou claro na semana passada. Mas a ideia é criar um modelo estruturado que entre na rotina do presidente, resgatando o formato consolidado pelo ex-ministro da Secom Franklin Martins na segunda passagem de Lula pelo Planalto.
Menino do Franklin
Não à toa, Portela – assessor especial que está à frente da secretaria enquanto Paulo Pimenta comanda o ministério extraordinário de apoio ao Rio Grande do Sul – é chamado por Lula de “o menino do Franklin”. Portela trabalhou na gestão de Franklin, entre 2007 e 2010.
A mudança na Secom já começou. Na quinta e sexta-feira passadas, Lula esteve em Belo Horizonte, Contagem e Juiz de Fora (MG) para anunciar investimentos. Para selar a passagem pelo Estado, concedeu entrevista por e-mail ao jornal Tempo e conversou com as rádios locais Itatiaia e FM O Tempo, na mesma semana em que já havia recebido o UOL
Quando Franklin Martins comandava a Secom, havia uma espécie de “kit de comunicação” para as viagens presidenciais. Lula concedia duas entrevistas: uma por escrito a um jornal regional, e outra a uma rádio do local da visita. Ele também atendia aos pedidos de “quebra-queixo”, as conversas rápidas com jornalistas que o cercam de microfones. E ministros envolvidos na viagem promoviam, um dia antes, uma coletiva de imprensa para detalhar a agenda.
O diagnóstico no Planalto é de que este terceiro mandato de Lula tem entregas a mostrar, mas não consegue divulgá-las de maneira eficiente. A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, foi escalada para apresentar, durante as viagens pelo País, a plataforma Comunica BR, compilado de entregas e investimentos confirmados pelo governo federal desde 2023. E está prevista a conversão do sistema para um aplicativo que poderá ser acessado de qualquer celular.
Portela e Franklin Martins, auxiliares palacianos afirmaram que a guinada na comunicação do governo não tem a ver com o afastamento de Pimenta da Secom, e já era pensada antes da tragédia no Sul. Pimenta continua acompanhando as ações da pasta e não abriu mão de seu gabinete no Planalto. Procurados, Portela e Pimenta não comentaram. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.