Com o fim da metade do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os debates sobre uma reforma ministerial começaram a dominar as conversas no Palácio do Planalto e gerar movimentações no Congresso. Pessoas próximas a Lula confirmam que está em discussão uma dança das cadeiras no governo para acomodar interesses de partidos aliados que podem garantir apoio tanto em votações na Câmara e no Senado quanto nas eleições em 2026 e também para melhorar a gestão em áreas vistas como problemáticas.
A expectativa é que Lula possa anunciar as trocas em seu time até o início do ano que vem, para que já comece a segunda metade do mandato com a nova equipe e a renovação da aliança com partidos de centro. Uma reunião ministerial de balanço e alinhamento de planos deve acontecer em janeiro.
As substituições no governo já foram tratadas pelo presidente com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e outros aliados mais próximos. Contudo, ninguém se arrisca a fazer o desenho da nova configuração da Esplanada.
Entre os ministérios comandados por membros do PT, o que concentra as principais queixas é a Secretaria de Comunicação Social, de Paulo Pimenta. Na sexta-feira, Lula fez críticas públicas à forma como o governo divulga suas ações. Para aliados do presidente, as declarações deixaram clara a intenção de demitir o auxiliar.
Visto como vitrine do governo Lula, o Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo Bolsa Família, também tem sido criticado por aliados do presidente por não conseguir propagar as ações positivas do governo. O chefe da pasta, Wellington Dias, tem a confiança do mandatário, mas vem sendo bombardeado nos bastidores.
Além de tentar turbinar áreas estratégicas da gestão petista, a reforma ministerial em discussão tem o objetivo de atrelar partidos da base do governo ao projeto de reeleição de Lula. A ideia é garantir os apoios de legendas do centro já no primeiro turno de 2026. Dentre as siglas cobiçadas, está o PSD, que elegeu o maior número de prefeitos nas eleições municipais deste ano e vem ganhando musculatura no Congresso.
Mais espaço
A avaliação de aliados de Lula é que, antes de pensar em 2026, o governo deveria tratar de conter o descontentamento da bancada do PSD da Câmara, que tem pedido um ministério maior. A prova da insatisfação de deputados do PSD da Câmara foi dada nas votações das urgências de dois dos projetos do pacote de ajustes de gastos, que receberam apenas 15 e 17 votos favoráveis entre os 44 deputados da sigla.
Uma ala do PSD considera natural a adesão ao projeto de reeleição de Lula, já que o partido pode encabeçar os palanques dos petistas no Rio e em Minas. Líderes da legenda afirmam, contudo, que o grupo descontente com o governo, formado principalmente por parlamentares do Sul e do Sudeste, pode ganhar argumentos para se alinhar à oposição em 2026 se não receber espaço na Esplanada.
Auxiliares de Lula entendem que uma forma de amarrar o PSD seria acomodar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), com um cargo após ele deixar o comando do Congresso, em fevereiro. Ministros de partidos de centro defendem o nome do parlamentar para a Saúde, de olho em uma candidatura ao governo de Minas em 2026.
Neutralidade
A reforma ministerial também deve atender aos interesses de PP e União Brasil, que atualmente estão na base do governo, mas inclinados a não embarcar no projeto de reeleição de Lula. Aliados do presidente dizem que manter o espaço dessas siglas e ampliar a oferta de cargos podem ajudar a garantir ao menos a neutralidade dessas legendas em 2026. Isso seria importante, porque não daria tempo de televisão e fundo eleitoral para um adversário do petista nas próximas eleições presidenciais.
Integrantes do governo veem com bons olhos a aproximação do deputado Elmar Nascimento (BA), líder do União Brasil na Câmara. O deputado chegou a ser cotado para assumir um ministério no início do governo, mas seu nome foi vetado no Planalto pelo currículo de opositor. O veto, segundo interlocutores de Lula, não existe mais —e, se houver acordo com União Brasil, Elmar pode assumir uma pasta, já que foi preterido na disputa com Hugo Motta (Republicanos-PB) pela presidência da Câmara.
Já a possibilidade de entrada no governo do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é considerada mais remota. O parlamentar não estaria disposto a se atrelar agora ao projeto de reeleição de Lula e não tem perfil para ser cobrado por outro ministro. Além disso, teria que receber uma pasta de tamanho semelhante ao do Ministério dos Transportes, de Renan Filho, o seu rival político em Alagoas.