Sexta-feira, 10 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 4 de março de 2020
Nessa quarta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) se encontrou em Paris com o ex-colega francês Nicolas Sarkozy (2007-2012). Dentre os assuntos conversados estava a preocupação com a suposta “escalada autoritária” do governo de Jair Bolsonaro.
“Com o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy hoje, em Paris. Refletimos juntos sobre o avanço da extrema-direita no Brasil e no mundo”, escreveu o petista no Facebook. “Ele relatou observar com preocupação a escalada autoritária do governo Bolsonaro. E disse que o Moro escancarou sua parcialidade ao aceitar fazer parte desse governo.”
Aos jornalistas, Lula também abordou aspectos da política externa, na América Latina, ao elogiar o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e atacar o mandatário autodeclarado Juan Guaidó, líder da oposição: “A Europa e os Estados Unidos não poderiam ter reconhecido um farsante que se autoproclamou presidente”.
“Não é correto, porque se a moda pega a democracia é jogada no lixo e qualquer picareta pode se autoproclamar presidente, sabe?”, prosseguiu. “Eu poderia agora me autoproclamar presidente do Brasil, mas a democracia para onde vai?”
Diálogo
O ex-presidente, que realiza uma viagem pela Europa, foi homenageado em Paris na segunda-feira com o título de Cidadão Parisiense pela prefeita socialista Anne Hidalgo. Ele deve passar também por Suíça e Alemanha.
“Quem está tomando a iniciativa de conversar é o Maduro, não é o Guaidó”, acrescentou. “O Guaidó gostaria, na verdade, e até tentou forçar, que os norte-americanos invadissem a Venezuela. Ele deveria ter sido preso, mas o Maduro foi tão democrático que não prendeu quando ele foi para a Colômbia tentar instigar a invasão da Venezuela.”
Para o ex-presidente, a melhor saída para a crise na Venezuela será a abertura de um canal de dialogar com Maduro: “Se a Michele Bachelet [Chile] fez uma reunião com o Maduro e descobriu que há repressão à oposição, ela tem o direito e a obrigação de criar uma comissão na ONU. Ela pode convocar chefes de Estado, pedir uma reunião com o Maduro, convidar o Maduro na ONU e discutir. Na minha experiência de política, desde movimento sindical, não tem jeito de você estabelecer um acordo se ele não for em torno de uma mesa com as pessoas que pensam a favor e ao contrário”.
Haddad
Lula também saiu em defesa de Evo Morales, ex-presidente da Bolívia que renunciou sob pressão dos militares em outubro, após tentar um quarto mandato em uma eleição cuja apuração teve denúncia de fraude.
No encontro, o ex-prefeito de São Paulo e candidato petista, derrotado nas urnas em 2018, Fernando Haddad, abordou o mesmo tema. Segundo afirmou a jornalistas durante o encontro entre Lula e Sarkozy, “o Brasil só vai encontrar paz quando encontrar justiça”. Disse ele: “E a justiça só será feita quando Lula subir de novo a rampa do Palácio do Planalto”.
Haddad participou também do Festival Lula Livre, no Teatro Du Soleil, na capital francesa, ao lado de Lula e da presidenta deposta Dilma Rousseff (PT). O evento contou com apresentações musicais e artísticas contra a violência da Polícia Militar, por mais escolas e menos prisões, contra a morte de jovens periféricos e mulheres. O evento compõe a agenda europeia do ex-presidente nesta semana – além de Paris, irá a Genebra e Berlim.
Haddad falou também sobre o momento que o Brasil vive: “O arbítrio chegou ao poder pelo voto e temos de entender como isso aconteceu. Para que o atual presidente (Bolsonaro) chegasse ao poder houve um grande desgaste das instituições democráticas – disse, lembrando a sabotagem contra o governo Dilma Rousseff pela oposição derrotada, o processo de impeachment”.