O impasse após as eleições presidenciais da Venezuela levou o Brasil a estudar a proposta de um novo pleito no país vizinho. Integrantes do governo Luiz Inácio Lula da Silva discutem, a portas fechadas, a hipótese. Pela ideia em debate, seria promovido uma espécie de “segundo turno” somente entre Nicolás Maduro e o opositor Edmundo González. Embora informal, a ideia já foi levada ao conhecimento do petista.
A realização da nova votação dependeria de outro acordo entre as forças políticas venezuelanas e de determinadas condições, como a ampla presença de comitivas de observação internacionais, a promessa de anistia política aos perdedores – algo já defendido pela Colômbia – e o relaxamento das sanções contra o regime chavista.
O governo brasileiro entende que a manutenção das sanções indispôs o governo de Maduro a aceitar a presença de membros da União Europeia, por exemplo. O jornal Valor Econômico noticiou que o ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial de Lula, fez a sugestão a Lula e que o presidente a reproduziu verbalmente, durante a reunião ministerial realizada na quinta-feira passada (8) no Palácio do Planalto.
A possibilidade depende de ser ainda mais lapidada. A Assessoria Especial da Presidência ponderou que não se trata ainda de uma proposta formal acabada a ser apresentada pelo País.
“É como se fosse um segundo turno das eleições”, afirmou Amorim ao Valor. “Essa ideia não é nova, existe desde o início do problema. Se quiserem negociar um pacote em torno dessas coisas, com o fim das sanções, é possível fazer uma espécie de segundo turno, com um bom acompanhamento internacional.”
O presidente Lula deve conversar sobre esse cenário ao telefone com os presidentes do México, Andrés Manuel López Obrador, e da Colômbia, Gustavo Petro, ainda nesta semana. O telefonema vem sendo adiado, segundo integrantes do governo, por dificuldades de agenda.
Depois, a ideia do governo Lula é levar o trio para uma conversa conjunta, também virtual, com Maduro. Em seguida, eles fariam a mesma rodada de contato direto com González. Essa é a saída que o Palácio do Planalto desenhou depois que Maduro solicitou um telefonema a Lula.
Oficialmente, o Itamaraty segue defendendo, ao lado das chancelarias de México e Colômbia, que é necessário obter dados de forma transparente, detalhada e completa sobre a votação realizada em 28 de julho. Os países pressionam o órgão eleitoral venezuelano, controlado pelo chavismo, a fornecer as atas eleitorais por mesa de votação e pedem a permissão de uma verificação imparcial dos resultados.
Sem divulgar qualquer evidência comprobatória, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciou a reeleição de Maduro por 52% a 43% de González. Já a oposição coletou e publicou online cópias de 25 mil atas eleitorais (82% do total das mesas) e disse que sua contagem dá vitória ao desafiante, por margem inatingível para Maduro.
Duas semanas depois do pleito, cresce entre atores internacionais – e mesmo no governo brasileiro – o ceticismo com a possibilidade de divulgação real dessas atas.