O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fechou seu gabinete a negociações no varejo com parlamentares do Centrão. Numa tentativa de evitar desgastes, ele terceirizou para ministros a articulação política com o baixo clero do Congresso e limita-se a encontros com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), além de dirigentes partidários. Nem mesmo líderes de bancadas temáticas têm sido atendidos no gabinete presidencial.
A sala de Lula, que já esteve aberta a parlamentares nos dois primeiros mandatos do petista, agora é espaço com acesso restrito. Deputados e senadores que vão ao Planalto estão sendo direcionados para o gabinete do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
O novo método, no entanto, não tem agradado a congressistas. O “guichê político” de Padilha, como mostrou o Estadão, “não entrega” o que os políticos esperam. Deputados relataram “lentidão” do ministro na divisão dos cargos de segundo e terceiro escalões.
Articulação política
O responsável pela articulação política, que deveria receber os parlamentares, nem sempre está disponível para a tarefa de atender aliados no Planalto. Um deputado do União Brasil pediu uma audiência com Padilha, mas acabou sendo atendido por um assessor do petista.
Em conversas reservadas, interlocutores do Planalto dizem que o presidente teme ficar refém do Centrão caso aumente sua exposição à classe política. O governo ainda não conta com uma base consolidada e não tem verbas para liberar, de forma pulverizada, em troca de apoios.
No último dia 24, Lula recebeu Lira no Palácio da Alvorada para costurar um acordo com a presidência do Senado sobre o rito de tramitação de medidas provisórias. As conversas por telefone de Lula com os chefes do Legislativo, porém, são frequentes.
Passado
O núcleo duro de ministros do governo age para evitar que Lula seja associado também à repercussão de fatos negativos ocorridos no Planalto. No primeiro governo Lula, por exemplo, entre 2003 e 2010, o governo acabou marcado pelo mensalão, esquema de compra de apoio parlamentar envolvendo líderes partidários e figuras do baixo clero.
Logo nos primeiros meses de 2003, o presidente entrou em campo pessoalmente para garantir a aprovação da reforma da Previdência – a primeira grande pauta do governo petista. Ele promovia almoços no Planalto com os líderes dos partidos aliados e comandava reuniões reservadas com parlamentares de outros campos.
Agora, nos primeiros três meses do atual governo, Lula tem evitado até mesmo encontros públicos com aliados tradicionais, como dirigentes do Movimento dos Sem Terra (MST), que ainda não foram recebidos por ele.
Assim como no início do primeiro mandato do petista, o MST tem promovido invasões no campo, mas o responsável pela mediação tem sido o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira.
Relação
“A versão Lula 3 está muito diferente das versões de mandatos anteriores e isso é muito perceptível, talvez pelo próprio desgaste da relação (com o Congresso), ou pela mudança da conjuntura da Câmara e do Senado”, disse o deputado Danilo Forte (União BrasilCE) ao Estadão.
“Isso pode ter mudado o comportamento do presidente. Mas ele é animal político e a política só se faz com diálogo. Por isso, um chamamento aos parlamentares seria interessante até para ele enxergar um pouco do sentimento das bancadas”, afirmou Forte.