Por Redação O Sul | 3 de setembro de 2018
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentará recurso no STF (Supremo Tribunal Federal) e na ONU (Organização das Nações Unidas) para que garantam a possibilidade de que ele participe das eleições presidenciais de outubro. A nova estratégia foi traçada depois que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) decidiu, por seis votos a um, rejeitar o registro de sua candidatura.
A informação é do candidato a vice-presidente do PT, Fernando Haddad, substituto do líder petista caso ele “jogue a toalha” de vez em sua ideia de que concorrer ao Palácio do Planalto. Nessa segunda-feira, o ex-prefeito paulistano (2013-2016) se reuniu com Lula na cela da Polícia Federal em Curitiba (PR) onde o ex-presidente cumpre há quase cinco meses a sua pena de mais de 12 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá (SP).
Apesar de alguns integrantes do PT acreditarem que Lula ja anunciaria a sua retirada da disputa e indicaria Haddad, ele optou por insistir na aspiração. “Ele vai fazer tudo para garantir que o povo possa escolher livremente o seu presidente”, frisou o candidato a vice-presidente. Ainda de acordo com ele, “o partido vai adotar todas as medidas jurídicas necessárias” para garantir o registro:
“Mostramos todas as possibilidades jurídicas que ainda temos e ele tomou a decisão de, em primeiro lugar, apresentar um recurso perante a ONU para que se manifeste sobre a decisão das autoridades brasileiras de não acatar uma determinação do Comitê de Direitos Humanos do organismo. Em segundo, apresentar um recurso no STF para que, mediante uma cautelar, garantir o direito a registrar sua candidatura”.
A principal alegação da defesa de Lula é que as autoridades se negaram a obedecer uma medida cautelar ditada pelo Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas que pede garantias para sua participação nas eleições.
Já o TSE considerou que essa medida cautelar carece de caráter vinculativo e acrescentou que o Comitê da ONU se pronunciou “sem ter ouvido o Estado brasileiro antes” e que fez isso através de apenas dois de seus 18 integrantes.
“Não imaginávamos que o Brasil fosse contrariar uma determinação de um organismo internacional e um tratado que subscrevemos e que foi aprovado pelo Congresso”, disse Haddad.
Caso os novos recursos do PT também sejam rejeitados, o partido terá até o dia 11 deste mês para apresentar um novo candidato.
Resistência interna
A decisão de Lula de “esticar a corda”, insistindo até o limite no discurso de sua candidatura ao Palácio do Planalto desagradou aos aliados de Haddad. A avaliação de dirigentes petistas ligados ao ex-prefeito, e também de governadores e deputados do partido, é de que o prolongamento do prazo para a substituição da candidatura traz embutido o risco de dispersão dos eleitores de Lula.
De acordo com aliados de Haddad, a narrativa do ex-presidente tem funcionado até agora, mas o cenário pode mudar após a resolução do TSE. O argumento é de que, com o bloqueio institucional no caminho do ex-presidente, seus eleitores entenderam, na prática, que ele não será candidato e podem começar a se desmobilizar.
Isso incluiria a migração de votos para um candidato identificado com bandeiras mais à esquerda, como Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede), que aparecem nas pesquisas como possíveis herdeiros do “espólio” lulista. Além disso, o discurso pró-segurança de Jair Bolsonaro (PSL) tem seduzido eleitores de Lula no Nordeste e preocupado a campanha do PT.
Aliados de Haddad (e o próprio ex-prefeito) também temem que o tempo seja escasso para fazer o seu nome, ainda pouco conhecido nacionalmente, angariar o apoio que hoje está na órbita de Lula, que conta com 39% das intenções de voto, na mais recente pesquisa do Instituto Datafolha.
