Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 14 de outubro de 2022
Economias da América Latina responderam rápido à escalada de preços, mas, ainda assim, vão continuar lutando contra uma inflação elevada por algum tempo e, por isso, não podem afrouxar o processo de aperto monetário de forma prematura, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Recentemente, as pressões inflacionárias se ampliaram em países como o Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru, alerta o organismo, com sede em Washington, em documento publicado nesta sexta-feira (14).
“Os bancos centrais da região agiram rapidamente e mantiveram ancoradas as expectativas de inflação de longo prazo”, afirmam Santiago Acosta Ormaechea, Gustavo Adler, Ilan Goldfajn, que foi presidente do Banco Central (BC) no Brasil, e Anna Ivanova, autores do publicado pelo FMI. “No futuro, a política monetária deve manter o curso e não relaxar prematuramente”, alertam.
Segundo eles, a “resposta rápida” dos principais bancos centrais da América Latina por meio do aumento de juros, na frente de outros países emergentes e de economias avançadas, vai ajudar a baixar a inflação, mas esse processo levará algum tempo, o que, na prática, significa que a região seguirá lutando com essa preocupação por mais algum tempo. A política monetária precisa “domar” a demanda doméstica para exercer pressão baixista sobre os preços, afirmam.
Além disso, pressões inflacionárias têm se ampliado recentemente, afetando itens da cesta básica, além dos preços de alimentos e de energia. “Este tem sido o caso no Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru, onde a inflação atingiu recentemente a alta de 10% em duas décadas e está testando a credibilidade duramente conquistada das estruturas de metas de inflação”, dizem os especialistas do organismo.
Nesse contexto, o FMI elevou suas projeções para a inflação nesses cinco países, cuja média anual passou a ser de 7,8% neste ano e de 4,9% no próximo ano. Especificamente para o Brasil, o Fundo projeta que o indicador fique em 6,0% e 4,7%, respectivamente. Em 2021, foi de 10,1%. A inflação ainda permanecerá “acima das faixas de tolerância dos bancos centrais na maioria dos casos – até o fim do próximo ano”, destacam os autores do documento.
Já em termos de crescimento, o FMI prevê que os mesmos cinco países da América Latina apresentem em média um Produto Interno Bruto (PIB) 3,0% maior neste ano. Para 2023, porém, preveem uma desaceleração, com a expansão baixando para 1,2%. O Brasil é o país que deve entregar o maior crescimento neste ano, de 2,8%. Para 2023, a expectativa, porém, é de alta de apenas 1,0%.
“Com a mudança dos ventos à frente, o crescimento no próximo ano (na América Latina e Caribe) deve desacelerar mais rapidamente do que projetamos”, dizem os autores do estudo.
Segundo os participantes do documento, as economias da América Latina continuam a lutar contra dois choques, a pandemia e a guerra na Ucrânia, e, além deles, um terceiro, que tem sido o aperto das condições financeiras para controlar a escala de preços na região. A subida de juros, avaliam, vai testar os balanços de empresas e governos, mas o saudável sistema bancário desses países devem mitigar riscos de estresses financeiros.
“Mas bolsões de vulnerabilidades permanecem”, alertam, citando o crescimento da dívida fora do universo bancário. “Monitorar essas vulnerabilidades será fundamental para identificar possíveis fontes de estresse e tomar medidas precoces”, sugerem.
Quanto à política fiscal, os especialistas do FMI sugerem refrear os gastos públicos, melhorar o desenho dos sistemas tributários e fortalecer as estruturas fiscais para garantir uma “disciplina sustentada”. “Com necessidades sociais terríveis na região, no entanto, as políticas para reduzir a dívida e os déficits só podem ser eficazes e duráveis se forem inclusivas – isto é, se protegerem os pobres”, concluem.