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Por Redação O Sul | 25 de junho de 2024
O Brasil já teve períodos em que a substância cannabis, a substância psicoativa da maconha, era comercializada livremente em farmácias como medicamento. O uso da maconha com fins medicinais é descrito em anúncios nas páginas do Estadão desde o fim do século 19.
“Um infeliz carregador de jornaes, atacado de violenta asthma com suffocações, ia ver-se obrigado a abandonar a modesta posição que lhe assegurava o pão, bem como à família, quando leu casualemente um jornal que tratava da efficacia dos Cigarros de Cannabis Indica da Grimault & C. Fez uso della, e tão satisfeito ficou que, no auge da alegria, escreveu que sem elles sua vida seria impossível”, destaca o anúncio de 22 de maio de 1896.
Como não havia restrição à droga – só em 1938 a substância foi considerada entorpecente – e o uso medicinal era corriqueiro, havia vários anúncios patrocinados por médicos e clínicas exaltando os benefícios da cannabis em tratamentos de saúde.
As principais indicações eram para problemas respiratórios como asma, bronquite e tosse. Os “cigarros índios” (cigarrettes indiennes) com a substância cannabis indica, do laboratório francês Grimault & Comp, eram vendidos sem restrições e seus benefícios eram veiculados em testemunhais na seção livre, a de pequenos anúncios, do jornal.
Insônia
Além de problemas respiratórios, os remédios com maconha também eram indicados para insônia. Os “Cigarros Índios” (cigarrettes indiennes) com a substância ‘cannabis indica’ prometiam alívio imediato dos sintomas. Industrializados, os cigarros eram vendidos embalados e comercializados pelo laboratório francês Grimault & Comp.
Em 1919, a substância também aparecia como sugestão para o tratamento da gripe espanhola.
Mais detalhes da história do uso medicinal da maconha podem ser vistos no Museu da Maconha e da Marijuana de Amsterdã e no site do livro o Antigo Livro da Cannabis, ambos em inglês. O museu holandês classifica o período entre 1837 e 1937 como os anos de ouro da maconha medicinal.
Segundo o museu, a cannabis era o segundo ingrediente mais frequentemente usado em medicamentos disponíveis nas farmácias da Europa e dos Estados Unidos, ficando atrás apenas dos opiáceos.
Com a droga proibida, o consumo de maconha virou questão policial. Um nota dos anos 50 mostra uma discussão sobre as estratégias para combater a droga no II Congresso Nacional de Polícia.
Além das páginas policiais, a maconha aparece no noticiário como uma fonte de preocupação comportamental e de saúde. Ao longo dos anos, com a prisão de usuários com pequenas quantidades, intensificou-se o debate sobre a descriminalização e a liberação do uso medicinal da substância.
Cocaína do caboclo
Nos anos 30, o Estadão publicava o relato de Gastão Cruls sobre uma expedição que realizava na Amazônia, no qual, entre outros assuntos, falava sobre a maconha: “… O dirijo, também conhecido por “fumo d’Angola”, “maconha, “diamba, ou “riamba” é a cocaína do caboclo… ”
“…Informa-me o Ricardo que o dirijo (nome mais em voga aqui”, também é appellidado de “birra”, e quando eu lhe peço maiores esclarecimentos acerca dos seus effeitos, elle se limita a dizer que um bom cigarro desse fumo faz a pessoa ficar “falista”…” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.