Quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 27 de junho de 2024
O Supremo Tribunal Federal (STF) considera que não há crime quando uma pessoa carrega consigo até 40 gramas de maconha. Essa quantidade é a que vai diferenciar um usuário de um traficante.
A seguir, veja mitos e verdades sobre a droga com base na explicação de médicos.
* Maconha pode queimar os neurônios?
Mito – Não há qualquer indício de que a maconha possa queimar neurônios, de acordo com o médico Claudio Lottenberg, presidente do Conselho da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.
O médico lembra, porém, que a droga age no sistema nervoso central, e o uso recreativo pode, sim, causar danos. Entre os mais jovens, o consumo de maconha pode ter um fator agravante: na adolescência, o córtex pré-frontal, área do cérebro que ajuda a tomar decisões, não está totalmente formado, e o uso excessivo de maconha pode afetar o seu desenvolvimento.
Lottenberg ressalta que a questão de eventual dano cerebral não se aplica à utilização da cannabis para fins terapêuticos. “O uso medicinal é com acompanhamento, com doses seguras”, afirma o médico, que também atua no mercado da cannabis medicinal.
* Maconha pode viciar?
Verdade – A maconha é uma droga e pode, sim, viciar, mas em determinados contextos. No entanto, os especialistas explicam que, entre as drogas, ela é a com menor potencial de risco para o vício.
“No vício, o metabolismo fica estimulado sistematicamente para que você tenha vontade de consumir aquilo do qual você está dependente. Essa não é a resposta do corpo humano à cannabis”, explica Lottenberg, acrescentando que há exceções, como fatores genéticos, ambientais e comportamentais.
Ele afirma que o THC, substância presente na cannabis responsável pelos efeitos psicoativos e neurotóxicos, afeta o sistema que regula funções como humor, apetite e memória.
O uso repetido da maconha pode levar à tolerância, exigindo doses maiores para alcançar os mesmos efeitos.
Segundo a médica Carolina Nocetti, que é diretora do comitê que representa o Brasil na Associação Pan-Americana de Medicina Canabinoide, ao contrário da cannabis medicinal, em que os níveis de THC são pequenos, no cigarro de maconha, esses níveis não são controlados e, por isso, podem ser muito altos, o que aumenta o risco de consumo abusivo.
* Maconha é “porta de entrada” para outras drogas?
Mito – A maconha é a droga ilegal mais usada. Mas não há qualquer indício de que a maconha cause no corpo alguma reação química que leve a pessoa a desejar ou necessitar de drogas mais fortes – até pelo seu menor potencial de vício.
O médico Luís Fernando Tófoli, professor do Departamento de Psiquiatria da Unicamp e pesquisador sobre políticas de drogas, alerta, porém, que é preciso, além do fator químico, observar as questões sociais do usuário.
“A porta de entrada para drogas é a biqueira [ponto de venda de drogas]. É o tráfico quem faz a gestão de que droga a pessoa experimenta. Desenvolver o vício não diz respeito apenas ao impacto que a droga tem no organismo, mas com as condições da pessoa”, explica Tófoli.
* O efeito de fumar maconha é o mesmo para todos?
Mito – Vários fatores vão interferir em como a pessoa irá se sentir após usar maconha.
O médico Claudio Lottenberg explica que cada metabolismo é único e, da mesma forma que o álcool pode provocar efeitos diferentes em cada pessoa a depender do metabolismo, a maconha também.
* O cigarro é mais prejudicial que a maconha?
Verdade – O cigarro tem potencial de vício e de morte maior que a maconha. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano. Sobre a maconha, não há casos de morte pelo uso.
No vício, o corpo tem uma necessidade constante daquela substância. No caso da maconha, o corpo não responde dessa maneira na maior parte dos casos.
A médica Carolina Nocetti explica que o risco de vício é de 9% entre os usuários da droga. Já no caso do cigarro, a nicotina tem uma resposta de vício em 90% dos usuários.
Ela lembra que a maconha, frente ao cigarro, é avaliada como redução de danos, mas sem levar em consideração os riscos, como procedência da droga e forma de uso.
* A maconha recreativa e maconha medicinal são a mesma coisa?
Mito – A quantidade e a forma de uso são totalmente diferentes.
— Maconha para uso recreativo: o usuário, geralmente, fuma um cigarro com as flores da planta Cannabis sativa, mas também é possível consumi-la de outras maneiras, como ingerindo no meio de alimentos.
— Cannabis para uso medicinal: o paciente usa óleos, pomadas, extratos ou medicamentos (alguns já disponíveis em farmácias) feitos a partir de substâncias presentes na maconha. Serve para tratar de sintomas de condições como epilepsia, Parkinson e dores crônicas.
A planta Cannabis sativa é composta por diversas substâncias químicas chamadas de canabinoides. Os mais conhecidos são o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD).