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Mãe disfuncional

A verdade é que dói ver o filho crescer e não te botar mais no centro do seu mundo. (Foto: Reprodução)

A vida é um constante renovar e descobrir e transformar. E, agora, virei mãe de um pré-adolescente.

Lá atrás, quando era menina, eu me imaginava como mãe. Com crianças, com filhos pendurados nos meus braços e que respondessem, aceitassem e ainda sorrissem a tudo que eu falasse. Afffff, bobinha.

Bom, primeiro, isso é uma ilusão – e independe da idade do filho. Eles simplesmente não agem como você, nos seus sonhos mais lindos, sonhou. Mas, principalmente, porque a proximidade da adolescência vira o nosso papel de mãe de cabeça pra baixo. Simplesmente vira. De mãe maravilhosa, você vira uma espécie de estorvo. Um estorvo muito amado nas horas certas, é verdade, mas, em geral, inadequada.

Perceber a sua atual inutilidade dói. A mãe tem como função primordial não apenas amar, mas ser absolutamente útil. A mãe faz sobreviver. A mãe alimenta. A mãe incentiva. A mãe diverte, ocupa, ensina, direciona, afaga. E aí, um belo dia…

A mãe vira um “saco”.

A mãe fala alto demais. A mãe dá ordens, acha que manda. A mãe é chata. A mãe abraça no momento errado. A mãe se torna, simplesmente, inconveniente.

Oi? Eu não nasci pra ser inconveniente! Eu nasci para ser maravilhosamente a mãe desse filho que, agora, revira os olhinhos quando me vê correr em sua direção para tirar uma foto, sabe? Sim, eu sei que você sabe.

A verdade é que dói ver o filho crescer e não te botar mais no centro do seu mundo. O que é o certo, né? É o caminho natural da vida. Mas não venham me dizer que não dói.

Porém, uma verdade absoluta dessa vida é que crescer dói. E como dói! Dói muito. Crescer como pessoa. Crescer da infância para a adolescência. Crescer como mulher e passar da mãe absoluta para a mãe de um ser humano em formação dói. E dói profundamente.

Mas a dor nada mais é que a resposta física (ou emocional) de algo disfuncional. Só que, no caso, disfuncional sou eu! Eu, a mãe protetora, carinhosa, excessiva. Eu, a mãe que acha que ainda precisa pegar na mão e carregar junto quando, na verdade, a minha função, agora, é apontar o caminho.

Virei um pouco disfuncional. Mas só um pouco. Ou, ao menos, só na parte pública. Porque, lá no fundo, dentro de casa e no calor do abraço, toda mãe é mais que funcional: é essencial.

(Ali Klemt)

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