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Rio Grande do Sul Mães na enchente: mulheres em abrigos no RS recebem homenagens e falam de esperança

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A doméstica Caroline Costa passa o Dia das Mães com sua filha Helena Vitoria, de apenas três dias, e mais dois filhos em abrigo na região norte de Porto Alegre. (Foto: Reprodução)

Daqui a algum tempo, Helena Vitória não lembrará de nada. Mas as memórias dos seus primeiros dias de vida serão incorporadas, para sempre, à história do Rio Grande do Sul e do Brasil. Quando, no futuro, a doméstica Caroline Costa, 31 anos, contar à sua filha sobre o primeiro Dia das Mães que passaram juntas, as palavras cuidado, amor, esperança e solidariedade ganharão um sentido especial. Talvez não seja por acaso que essas mesmas palavras definam o que é ser mãe.

Nesse domingo (12) pela manhã Caroline, de Eldorado do Sul, segura a filha de três dias no colo, enquanto aguarda um almoço especial, oferecido por voluntários, para celebrar a data. Ela e sua família estão abrigados temporariamente na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, na região norte de Porto Alegre. Desde segunda-feira, quando foram resgatados de helicóptero, após dois dias ilhados em um posto de gasolina, é lá que dividem o teto com outras dezenas de pessoas desalojadas pelas enchentes avassaladoras que afogam o extremo sul do Brasil.

“Durante a madrugada, eu e minha esposa, que então estava prestes a completar nove meses de gravidez, acordamos com o barulho da água. Era por volta das 2h da madrugada e eu vi na hora que precisava tirar ela e meus filhos de lá imediatamente. A água já estava pela canela, e consegui levar eles para um local seco”, conta Jonas dos Santos, 35 anos, marido de Caroline.

As horas seguintes foram, nas palavras dele, um “filme de terror”. A ideia era ir de carro até o litoral norte do Estado, onde conseguiriam abrigo na casa de familiares. Só que no meio do caminho, foram impedidos de seguir. A estrada estava bloqueada porque um viaduto havia sido arrastado pela força da correnteza. Também não tinham como retornar. A água já tomara conta da rodovia no trecho recém-percorrido. A solução foi parar no único posto de gasolina ainda seco. Lá, passaram as 48 horas seguintes.

“Foi um pesadelo, era um breu total durante a noite. Minha pressão subiu, pois tinha diabetes gestacional. Eu estava prestes a parir, mas tinha que dormir no chão do posto. Eu não sabia o que fazer”, lembra Caroline.

Foi somente na segunda-feira que o resgate chegou. Um helicóptero do exército levou a família para um hospital da Capital. De lá, alguns dias depois, foram encaminhados ao abrigo na zona norte já com a pequena Helena Vitória no colo. Recebidos com uma onda de solidariedade e acolhimento, conseguem, agora esboçar um sorriso tímido no rosto. “É uma benção estar com a família, todos com saúde, em um local tão cheio de amor. O Dia das Mães com certeza está sendo muito diferente do que a gente imaginou, mas, em meio a tanta tristeza, essa refeição que está sendo preparada tem um tempero especial”, diz a mãe.

Mães atípicas

A poucos quilômetros dali outras dezenas de mães eram surpreendidas com um café da manhã especial. Bolo de chocolate, pão de goiabada e suco de uva faziam parte do cardápio, que era servido ao som de violões.

Ao redor da mesa, três voluntários tocavam clássicos de MPB enquanto cerca de 15 famílias atípicas, abrigadas temporariamente em um espaço de Crossfit, começavam a despertar. Elas fazem parte de um grupo de pessoas que, desde o início das enchentes, estão sendo acolhidas por um projeto desenvolvido em tempo recorde pela jornalista Debora Saueressig e pela nutricionista Roberta Vargas, mães de autistas e fundadoras do Instituto Colo de Mãe.

A sede temporária, que logo será transferida para um espaço maior – com capacidade de acolher entre 100 e 200 famílias – foi criada para atender às necessidades de alimentação, ambientação e suporte multidisciplinar das famílias de crianças com desenvolvimento diferente, incluindo pessoas com deficiência.

“Em meio a uma tragédia de dimensões inéditas, proporcionar um Dia das Mães com famílias atípicas reunidas, que compartilham demandas semelhantes, necessidades, desafios e dores semelhantes, é de certa forma especial. O mais significativo do dia é poder olhar fundo nos olhos de mães que sabem o que eu falo, sabem o que eu e todas as mães atípicas sentem, e poder falar para elas que estamos construindo, juntas, uma nova possibilidade de vida”, relata Debora. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

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