Domingo, 26 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 12 de maio de 2023
“Vamos ter que fazer essa grana ficar limpa”, disse um dos envolvidos
Foto: Fernando Frazão/Agência BrasilAs investigações que ligam apostadores e jogadores de futebol a cada dia vai escancarando como o esquema era realizado. A máfia dos apostadores planejava evitar o uso de celulares como local de organização e planejamento das apostas.
Em determinado trecho de um documento da Operação Penalidade Máxima II, em um grupo de mensagens chamado ‘BC Sports Tips’, Bruno Lopez de Moura, um dos apostadores e membro da organização, encaminha uma gravação de uma sala comercial. A ideia era de montar um escritório no qual pudessem controlar as atividades, até então produzidas por mensagens.
“Metemos um piso de society, umas camisas penduradas de jogador. Cabou. Ta top”, escreve Bruno Lopez, que ainda fala que o local seria para receber assessores, jogadores de futebol e que também serviria para ‘pagamentos antecipados’ em caso de apostas combinadas. Nas explicações de Bruno, a sala comercial custaria R$ 1,7 mil por mês e serviria para que o grupo tratasse tudo de forma pessoal, sem deixar rastros ou provas em mensagem.
O diálogo de Lopez é com Ícaro Fernando Calixto dos Santos, outro integrante. Na troca de mensagens, ambos falam sobre a realização de ‘uma aposta por mês ou a cada dois meses’, possivelmente abordando novas ações manipuladas. Na sequência, concordam que o escritório seria o início de um projeto de lavagem de dinheiro.
“Vamos ter que fazer essa grana ficar limpa”, diz Ícaro. “Aquela lavadinha. Lá os caras são fechamento meu”, responde Bruno. “Damos uma % pra lavar e eles ganham. Aí já era”, finaliza.
A Operação Penalidade Máxima investiga que grupos criminosos convenciam jogadores, com propostas que iam até R$ 100 mil, a cometerem lances em partidas e causassem o lucro de apostadores em sites de apostas.
Um jogador cooptado, por exemplo, teria de cometer um pênalti, receber um cartão ou até mesmo colaborar para a construção do resultado da partida.
Partidas sob investigação na Série A
Palmeiras x Juventude
Juventude x Fortaleza
Goiás x Juventude
Ceará x Cuiabá
Red Bull Bragantino x América-MG
Santos x Avaí
Botafogo x Santos
Palmeiras x Cuiabá
Atletas investigados
Eduardo Bauermann (Santos)
Gabriel Tota (Ypiranga-RS)
Victor Ramos (Chapecoense)
Igor Cariús (Sport)
Paulo Miranda (Náutico)
Fernando Neto (São Bernardo)
Matheus Gomes (Sergipe)
Jogadores citados no processo
Vitor Mendes (Fluminense)
Richard (Cruzeiro)
Nino Paraíba (América-MG)
Dadá Belmonte (América-MG)
Kevin Lomonaco (Red Bull Bragantino)
Moraes Jr. (Juventude)
Nikolas Farias (Novo Hamburgo)
Jarro Pedroso (Inter de Santa Maria)
Nathan (Grêmio)
Pedrinho (Athletico-PR)
Bryan García (Athletico-PR)
Apostadores e membros da organização
Bruno Lopez de Moura
Ícaro Fernando Calixto dos Santos
Luís Felipe Rodrigues de Castro
Victor Yamasaki Fernandes
Zildo Peixoto Neto
Thiago Chambó Andrade
Romário Hugo dos Santos
William de Oliveira Souza
Pedro Gama dos Santos Júnior
Regulamentação no Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu o texto da medida provisória (MP) sobre a regulamentação das casas de apostas no país. Conforme o texto, o Ministério da Fazenda terá de fiscalizar e exigir que o dinheiro que circula entre os apostadores e as casas de apostas entre em contas de instituições aprovadas pelo Banco Central. O documento indica, ainda, menor arrecadação das instituições e a criação de um grupo para fiscalizar a manipulação de resultados.
A MP proíbe, também, que dirigentes, jogadores, treinadores, menores de 18 anos e funcionários das casas de apostas façam jogos. Por fim, as casas de apostas só poderão veicular conteúdos de publicidade caso estejam licenciadas, o que necessitará o pagamento de uma quantia e regras que serão estabelecidas pelo Governo Federal.