A sertaneja Marília Mendonça, que perdeu a vida em uma queda de avião na última sexta-feira (5), foi a rainha da sofrência e da audiência. A artista mais ouvida dos últimos dois anos no Brasil tem 40 milhões se seguidores no Instagram, videoclipe com meio bilhão de views (em um canal que já tem 14 bilhões de acessos) e realizou a maior live da história do Youtube, feitos que a colocam como maior fenômeno recente da música brasileira. A título de curiosidade, em seu obituário o jornal americano New York Times escreveu pela primeira vez a palavra “feminejo”.
Mulher (em um segmento tradicionalmente dominado por homens) e jovem, a cantora e compositora acertou em cheio a veia romântica do país e, numa época em que o acesso aos meios digitais multiplicou as possibilidades da música interiorana de chegar a todo país, usou de sua voz, suas canções e o seu jeito simples para quebrar todas as barreiras. Ele era a “Mar(av)ília Mendonça” da canção “Sem samba não dá”, que Caetano Veloso – um de seus maiores e confessos admiradores – lançou mês passado no álbum “Meu coco”.
Nascida em Cristianópolis, em Goiás, em 1995, Marília começou a fazer músicas ainda menina, influenciada por artistas como Zezé Di Camargo, Skank e Capital Inicial. Aos 16 anos, já era compositora profissional e, não demorou muito, estava compondo para artistas sertanejos de sucesso, como Cristiano Araújo (“É com ela que estou”) e as duplas Henrique e Juliano (“Cuida bem dela” e “Até você voltar”, uma das canções mais ouvidas no Brasil no ano de 2015) e Jorge e Mateus (“Calma”).
Ainda em 2015, Marília se lançou como cantora, em participação na música “A flor e o beija-flor” de Henrique e Juliano. Eram tempos em que o sertanejo começava a revelar talentos femininos como a dupla Maiara e Maraísa (que gravou em 2015 “No dia do seu casamento”, canção de Marilia, Juliano Tchula e Maraisa) e Simone e Simaria. Em 2016, a cantora lançou o seu primeiro álbum DVD, “Marília Mendonça: Ao vivo”, no qual se destacaram as músicas “Infiel” (que se tornou uma das músicas mais ouvidas no país naquele ano), “Alô, porteiro“, e “Sentimento louco“.
O reconhecimento veio no fim do ano, na forma do prêmio Melhores do Ano do programa “Domingão do Faustão” e na participação no tradicional “Show da virada”, exibido no dia 31 de dezembro. O ano de 2017 veria o lançamento do segundo DVD de Marília Mendonça, “Realidade”, gravado ao vivo no Sambódromo de Manaus. No repertório, ela reuniu sucessos e inéditas, como “Eu sei de cor”, que se tornaria um dos maiores sucessos do verão de 2016-2017, liderando paradas por mais de cinco semanas. No mesmo ano, a sua gravação de “Amante não tem lar” foi uma das dez músicas mais executadas nas rádios brasileiras, e o clipe da música ultrapassou 250 milhões de acessos no YouTube. Seu vídeo mais assistido, da canção “Bem pior que eu”, tem 527 milhões de visualizações.
Maior live
Em 2018, Marília Mendonça adentrou o seleto clube da MPB quando Gal Costa gravou com ela a sua composição “Cuidando de longe” (em parceria com Junior Gomes, Vinicius Poeta e Juliano Tchula). Ainda nesse ano, ela foi a vencedora do Prêmio Prêmio Multishow de Música, na categoria Melhor Show e fez a virada para 2019 cantando para uma multidão no praia de Iracema, em Fortaleza, após 17 minutos de queima de fogos, a maior do país no ano. O ano que começava a consagraria pela primeira vez como recordista do streaming brasileiro, com shows para mais de 20 mil pessoas, como foi o da Expoacre, o maior público registrado nesta feira do Acre.
E foi em 2019 que Marília Mendonça lançou o seu projeto mais ambicioso: “Todos os cantos”, série documental exibida pelo Globoplay que acompanhou a sua missão de fazer shows gratuitos – e de surpresa – em todas as 27 capitais do Brasil. Lançado em álbum, “Todos os cantos” lhe rendeu uma certificação de disco de tripla platina pelas 240 mil cópias vendidas e o Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música Sertaneja.
“Na primeira cidade que escolhemos, Belém, ainda não tinha palco, fizemos o show em um monumento, no centro da cidade. Foi aí que percebemos que a estrutura teria que ser muito diferente, pela quantidade de pessoas, pela segurança de todos. Em Goiânia, a segunda cidade, tudo já ficou maior e foi crescendo”, disse Marília.
No fim de 2019, Marília Mendonça interrompeu suas atividades para dar à luz a Leo, seu filho com o cantor Murilo Huff (de quem se separaria em 2020, reataria logo depois e voltaria a separar em setembro deste ano). A pandemia de Covid-19 não freou o passo da cantora: sua live no YouTube, em maio de 2020, tornou-se a maior até então da história do site, com mais de 3,2 milhões de acessos simultâneos.
Seguidores
Apelidada de “Patroa” por sua multidão de admiradores (só no Instagram, 39,3 milhões de seguidores, sendo 2 milhões após a sua morte), Marília cultivava uma relação próxima com os fãs. A sertaneja compartilhou, por exemplo, todo o seu processo de emagrecimento publicando vídeos nas redes sociais — entre 2020 e 2021 ela perdeu 21 kg. Nestes posts, aproveitava para trocar dicas de alimentação e autoestima com o público.
Mês passado, Marília anunciou o projeto de shows “Festival das patroas”, com Maiara e Maraisa, que daria sequência a sua volta aos shows, interrompidos pela pandemia de covid-19. “É o grande passo das nossas vidas. A gente respira isso. E é com isso que a gente vai voltar para a estrada”, disse Marília em entrevista ao “Fantástico” sobre a turnê, marcada para 2022.