Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 3 de agosto de 2015
Quando alguém pensa em ter filhos, é natural que a primeira coisa que venha à cabeça é se o bebê vai ser parecido com o pai ou com a mãe, se vai lembrar alguém da família. Porém, a questão fica um pouco mais difícil quando a mulher recorre a um doador anônimo de um banco de sêmen. A situação fica ainda mais difícil se o processo ocorrer no Brasil, onde as informações sobre os doadores são limitadas. No exterior, é possível saber quase tudo sobre o homem que vai ser o pai biológico, menos, é claro, a identidade. Por isso, cada vez mais mulheres que têm o sonho de ser mãe estão procurando importar sêmen de bancos internacionais.
As gêmeas Luisa e Isabela são o sonho realizado da mãe, Daniela Iris de Oliveira. Ela não encontrou um parceiro que quisesse ter filhos, e decidiu procurar um banco de sêmen. “Eu optei por semelhanças com a minha família. Não que eu tenha buscado porque tinha olhos azuis, olhos verdes, mas mais para lembrar minhas características mesmo”, diz a servidora pública.
No Brasil, ela afirma que são poucas as opções, e as informações sobre o doador são muito básicas. Daniela encontrou o doador ideal em um banco americano que abriu escritório no Brasil já de olho em um mercado que vem crescendo. No banco de sêmen internacional a oferta muda e as exigências podem aumentar, a começar pelas características físicas.
“Seria o homem branco, de uma estatura ao redor de 1,80 metro. As características são muito variadas. Mas eu acredito que o que mais atrai a procura por uma amostra importada é a disponibilidade de muitas informações. O maior número de exames genéticos, o maior número de informações no perfil psicológico, o que torna aquela escolha mais completa”, explica José Roberto Alegretti, representante do banco de sêmen americano no Brasil.
Foi exatamente o que aconteceu com a empresária Juliana Gasparini. A mulher dela é descendente de japoneses. E as duas queriam um doador com traços orientais. “Olhos puxados. Japonesinho mestiço”, explicou Juliana. Mas, quando procuraram nos bancos de sêmen daqui, não encontraram.
“Nos Estados Unidos, muitos bancos podem pagar pelas doações de sêmen. E, dessa forma, eles têm um número muito maior de doadores do que a gente costuma ter”, diz a diretora de banco de sêmen brasileiro Vera Beatriz Feher Brand.
As importações de sêmen precisam de autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Em 2013, foram 32 autorizações. No ano passado, 205. E, até o primeiro semestre desse ano, já foram 168. O preço para importar não é muito diferente do que se pagaria no Brasil: varia de 2 mil reais a 3 mil reais. Mas aqui, o doador tem que ser voluntário. Não ganha nada por isso. A Constituição proíbe a comercialização de sêmen, mas não existe nenhuma punição prevista.
“Não há nenhum tipo de crime relacionado à comercialização de sêmen diferente, por exemplo, de órgãos ou tecidos humanos”, diz o presidente da Comissão de Bioética e Biodireito da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Bernardo Campinho.
“Sem punição, o mercado negro corre solto. Não é difícil encontrar homens oferecendo sêmen para vender na internet. Um deles cobra 4 mil reais, e prefere fazer a doação ‘pelo método tradicional [por relação sexual]’, dizendo que ‘é o mais garantido’.”
Um dos garanhões virtuais conta que é de origem italiana, quase 30 anos, cabelos loiros escuros, 1,80 metro. E diz que tem até “técnicas que aumentam a chance de acertar o sexo do bebê”, mas que só revelaria na hora. (AG)