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Mais de 17 mil armas antitanque, lobby em Washington e ciberespaço: o complexo e delicado esforço para armar a Ucrânia

(Foto: Freepik)

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reiterou nesta segunda-feira (7) o pedido à comunidade internacional para que forneça aeronaves militares à Ucrânia para combater a invasão russa.

Os EUA vêm tentando auxiliar Kiev com armas e “equipes de cibermissão”, além de grupos de lobby em Washington, em um esforço complexo e delicado para que o país não seja visto por Moscou como um “co-combatente” — o que poderia gerar um conflito direto entre Rússia e EUA.

Em menos de uma semana, os Estados Unidos e a Otan, a aliança militar ocidental liderada por Washington, passaram mais de 17 mil armas antitanque, incluindo mísseis Javelin, pelas fronteiras da Polônia e da Romênia, descarregando-as de gigantescos aviões cargueiros militares para que possam fazer a viagem por terra até a capital ucraniana, Kiev, e outras grandes cidades.

Até agora, o foco das preocupações russas tem sido tanto em outras partes do país que as linhas de fornecimento de armas ainda não são um alvo. No entanto, poucos acreditam que isso vá durar muito.

Essas são apenas as contribuições mais visíveis. Escondidas em bases na Europa Oriental, as forças do Comando Cibernético dos Estados Unidos conhecidas como “equipes de cibermissão” estão a postos para interferir nos ataques digitais e comunicações da Rússia — mas medir sua taxa de sucesso é difícil, dizem as autoridades.

Fluxo de armas 

Para entender a natureza veloz das transferências de armas em andamento agora, dois fatos devem ser considerados: um pacote de armas de US$ 60 milhões para a Ucrânia que os EUA anunciaram em agosto passado não foi concluído até novembro, segundo o Pentágono.

No entanto, quando Biden aprovou US$ 350 milhões em ajuda militar em 26 de fevereiro – quase seis vezes maior – 70% foram entregues em cinco dias. A velocidade foi considerada essencial, de acordo com as autoridades, porque o equipamento — incluindo armas antitanque — teve que passar pelo Oeste da Ucrânia antes que as forças aéreas e terrestres russas começassem a atacar os carregamentos. À medida que a Rússia ocupa mais território dentro do país, espera-se que se torne cada vez mais difícil distribuir armas às tropas ucranianas.

Num intervalo de 48 horas após Biden aprovar a transferência de armas dos estoques militares dos EUA em 26 de fevereiro, os primeiros carregamentos, em grande parte da Alemanha, estavam chegando a aeródromos perto da fronteira com a Ucrânia, explicaram as autoridades.

Segundo autoridades americanas, os ucranianos disseram que o armamento dos EUA e de outros aliados está fazendo a diferença no campo de batalha. Mísseis antitanque Javelin disparados na semana passada foram utilizados contra um comboio de quilômetros de blindados e caminhões de suprimentos russos, ajudando a impedir o avanço terrestre russo à medida que se aproxima de Kiev, disseram autoridades do Pentágono.

O comboio também foi atacado várias vezes em diferentes locais por outra arma fornecida por um Estado-membro da Otan. Drones armados turcos Bayraktar TB2, que os militares ucranianos usaram pela primeira vez em combate contra separatistas apoiados pela Rússia no Leste da Ucrânia em outubro do ano passado, agora estão caçando tanques russos e outros veículos, disseram autoridades dos EUA.

Ciberespaço

A batalha que a maioria dos estrategistas esperava marcar os primeiros dias da guerra — redes de computadores e as redes elétricas e sistemas de comunicação que eles controlam — mal começou.

Autoridades americanas dizem que isso se deve em parte ao extenso trabalho feito para fortalecer as redes da Ucrânia após os ataques russos à sua rede elétrica em 2015 e 2016. Especialistas, porém, pontuam que isso não pode explicar tudo. Talvez os russos não tenham se esforçado muito no início ou estejam mantendo seus trunfos em espera. Ou talvez uma contra-ofensiva liderada pelos americanos explique pelo menos parte da ausência.

Autoridades do governo se mantêm de boca fechada sobre o assunto, dizendo que as operações cibernéticas em andamento, que foram transferidas nos últimos dias de um centro de operações em Kiev para um fora do país, são alguns dos elementos mais secretos do conflito. Apesar disso, está claro que as equipes de cibermissão rastrearam alguns alvos, incluindo as atividades do GRU, as operações de inteligência militar da Rússia, para tentar neutralizar suas atividades.

Tudo isso é um território novo quando se trata da questão de saber se os Estados Unidos são um “co-combatente”. Pela interpretação americana das leis do ciberconflito, os Estados Unidos podem interromper temporariamente a capacidade russa sem conduzir um ato de guerra; a incapacidade permanente é mais problemática.

Lobistas

A Ucrânia tem recebido lobby, relações públicas e assistência jurídica gratuitamente — e está valendo a pena. Zelensky realizou uma teleconferência com membros do Congresso, pressionando por sanções mais duras à Rússia e pedindo tipos específicos de armas e outros apoios.

Uma equipe inclui Andrew Mac, um advogado americano que se voluntariou como lobista e consultor de Zelensky desde o final de 2019, e Daniel Vajdich, um lobista que foi pago pela indústria de energia ucraniana e um grupo sem fins lucrativos da sociedade civil, mas que agora está trabalhando de graça.

Porém, os lobistas americanos são um tema sensível na Ucrânia, depois que Paul Manafort, que mais tarde se tornaria presidente de campanha do ex-presidente Donald Trump, trabalhou para um presidente pró-Rússia que foi deposto em 2014, e também após Trump tentar fazer com que a ajuda militar a Kiev dependesse da vontade ucraniana de ajudar a investigar o então candidato Biden e seu filho, Hunter.

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