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Por Redação O Sul | 16 de agosto de 2018
Na primeira eleição nacional após a Operação Lava-Jato atingir dezenas de parlamentares e partidos, a taxa de tentativa de reeleição para a Câmara dos Deputados não teve grandes mudanças em relação as eleições anteriores: 414 deputados federais tentarão um novo mandato em outubro, o que representa um índice de 81,7% do total, ligeiramente superior à média histórica, de 80,2%. Há quatro anos, a taxa foi de 75,5%.
Os dados, levantados pelo Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) nas atas protocoladas nos tribunais regionais eleitorais, derrubam a tese de analistas e de políticos de que este ano seria marcado por uma tentativa de reeleição para a Câmara bem acima da média histórica , o que contribuiria para diminuir a renovação do Congresso Nacional.
Para analistas, o desgaste causado pela operação Lava-Jato, a necessidade de manter o foro privilegiado para evitar prisão e a falta de doações de empresas, o que obriga os políticos a tirarem do próprio bolso para bancar campanhas mais caras, desestimulavam os deputados a se aventurassem em disputas para o Senado ou governos.
O resultado após as convenções, porém, mostra que a taxa se manteve próxima da média histórica e está até menor do que em outros anos, como 1998 e 2006, quando os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tentaram a reeleição e mais de 86% dos deputados os acompanharam nessa empreitada.
Neste ano, 39 deputados concorrerão ao cargo de senador, seis a suplente, nove a governador, dez a vice-governador, dois a presidente (Jair Bolsonaro, do PSL-RJ, e Cabo Daciolo, do Avante-RJ) e quatro a deputado estadual. Outros 22 desistiram da vida pública e sete ainda não estavam confirmados até a quarta-feira, último dia para registro das candidaturas.
Na avaliação do Diap, contudo, isso não significa que a renovação da Câmara será no nível de anos anteriores – a média está em 45% desde 1998. Primeiro, por causa do fundo público eleitoral, que concentrou o dinheiro nas mãos de quem já tem mandato, e pela redução do tempo de campanha de 90 dias para 45 dias, com só um mês de propaganda na TV.
“Na janela partidária, todos os parlamentares, todos, chegaram no chefe do partido e disseram que tinham três ofertas para troca de partido: comando do diretório, fundo de campanha e espaço na TV. E receberam pelo menos duas dessas para ficar no partido. Mas quem não tem mandato não teve como negociar”, diz Antônio Queiroz, diretor do Diap.
Renovação
A entidade projeta uma taxa de sucesso de 75% dos que tentam a reeleição, o que daria a menor renovação desde 1990, com 39,5% de “novos” deputados. E esses 203 parlamentares que ingressarão em 2019 na Câmara não significam, necessariamente, renovação: há desde ex-deputados que retornam até filhos, irmãos e esposas que ocuparão as “vagas” de quem disputa outros cargos.
Em Pernambuco, os deputados Silvio Costa (Avante) e Mendonça Filho (DEM) concorrem ao Senado e indicaram seus filhos, que são deputados estaduais, para seus lugares. As apostas são de que os dois mais votados no Estado serão a vereadora Marília Arraes (PT), neta de Miguel Arraes, e João Campos (PSB), bisneto dele e filho do exgovernador Eduardo Campos.
No Rio Grande do Norte, três dos oito deputados desistiram da reeleição, mas lançaram parentes no lugar. Antônio Jácome (Pode) disputará o Senado e indicou um filho para deputado federal. Zenaide Maia (PHS) também concorrerá a senadora e o irmão, o ex-deputado João Maia (PR), tentará voltar à Câmara. Felipe Maia (DEM) dará lugar para o pai, o senador José Agripino Maia (DEM), que não teve espaço para concorrer à reeleição.
No Paraná, o líder do partido de Bolsonaro na Câmara, o delegado Fernando Francischini, concorrerá para deputado estadual e é o filho dele, que hoje ocupa vaga na assembleia legislativa, que disputará para deputado federal. A mudança de nomes, mas não de sobrenomes, deve manter o conservadorismo do Congresso, explica Queiroz. “A bancada dos parentes é, tradicionalmente, mais conservadora porque é a manutenção do atual sistema.”