Entre as mulheres que tiveram filhos no Brasil, 55,4% não planejaram a gestação. O número é resultado de um levantamento sobre parto e gravidez feito pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
O número registrado no nosso País é mais alto que a porcentagem média encontrada no mundo: as Nações Unidas dizem que 85 milhões de gestações foram indesejadas, 40% do total. Os dados mostram ainda que 25,5% das entrevistadas preferiam esperar mais tempo para ter um bebê e 29,9% simplesmente não desejavam engravidar em nenhum momento da vida.
A pesquisa é uma das mais completas sobre o assunto no Brasil: foram entrevistadas 23.894 mães após o nascimento de seus bebês, em 266 hospitais com mais de 500 nascimentos por ano, em 191 municípios que incluem todas as capitais do Brasil. Todas as entrevistadas responderam se queriam engravidar, se queriam esperar mais tempo ou se não queriam ter um filho.
“Nessa pesquisa temos mais de 1 mil variáveis que foram coletadas durante o processo. Incluímos a entrevista com a mulher no pós-parto, levantamento de prontuário dela e do bebê, do cartão de pré-natal, depois entrevistas telefônicas quando ela estava com dois meses pós-parto, seis meses e também um ano”, explicou a pesquisadora responsável Mariza Theme.
Com os dados destrinchados, o estudo mostrou que as mulheres que planejam suas gestações são brancas (52,7%), de maior escolaridade (59,3%), com idade acima de 35 anos (52%) e que têm relações estáveis (casadas ou com companheiro – 49,5%).
“Quem não consegue planejar? São as mulheres sempre com maior vulnerabilidade social. Então, são as meninas mais jovens, as adolescentes. São as mulheres pretas e pardas. São as mulheres de baixa escolaridade. São as que não têm uma relação ou uma situação conjugal estável”, disse Mariza.
De acordo com os pesquisadores, os dados foram cruzados com base em procedimentos estatísticos em que se busca um desfecho, no caso, saber quem faz o planejamento da gravidez.
Alto índice de cesarianas no Brasil.
Os resultados de Mariza e seus colegas fazem parte do “Inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento”, que gerou uma série de informações e diferentes conclusões – parte desses dados ainda deverá ser analisada. O projeto é coordenado pela pesquisadora Maria do Carmo Leal, da Fiocruz.
O alto índice de cesarianas no Brasil foi corroborado: 88% no setor privado e 43% no serviço público. De todos os partos no País, 11,5% são prematuros, índice quase duas vezes o dobro da porcentagem dos países europeus. Destes, 74% são prematuros tardios (34 a 36 semanas).
Os pesquisadores apontaram uma falha na organização dos serviços com relação ao parto no País: 32,8% das mulheres que tiveram complicações na gravidez são atendidas em maternidades sem leitos com UTI (Unidades de Terapia Intensiva), sendo que 29,5% das mulheres sem complicações são atendidas em serviços com UTI. Há também uma menor oferta de leitos no Norte e no Nordeste do Brasil.