Quinta-feira, 28 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 27 de agosto de 2024
A quantidade impactante de queimadas no estado de São Paulo na última semana teve aspectos em comum: mais de 80% aconteceu em áreas de uso agropecuário e a intensa cortina de fumaça que tomou conta de dezenas de municípios se formou em apenas 90 minutos. Esses são resultados de uma análise do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), nessa terça-feira (27). A Defesa Civil do estado de São Paulo afirma que todas os 2,6 mil focos de calor que surgiram desde a sexta-feira passada (23) já foram controladas, e agora investigações buscam culpados.
O número de queimadas em São Paulo na sexta-feira (23) superou a quantidade de incêndios na Amazônia inteira. Diante do caso, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sugeriu a hipótese de um “dia de fogo”, ou seja, de ações orquestradas por criminosos, para explicar a “atípica” situação, como definiu.
Diretora de Ciência do Ipam, Ane Alencar concorda que a ocorrência fugiu, por muito, do normal. “Não é natural surgirem tantos focos de calor em um curto período, ainda mais em uma região como São Paulo. É como se fosse um Dia do Fogo exclusivo para a realidade do estado, evidenciado pela cortina de fumaça simultânea que surge visualmente a oeste”, explicou Ane.
A análise do instituto usou informações de satélites de referência para focos de calor com dados de cobertura e uso da terra, referentes a 2023, produzidos pela Rede MapBiomas, da qual o IPAM faz parte. Também foram utilizadas imagens do satélite GOES para visualização da fumaça e anomalia térmica.
As imagens do satélite geoestacionário, que captura uma nova cena a cada dez minutos, mostram o aparecimento das colunas de fumaça em um intervalo de apenas 90 minutos, entre 10h30 e 12h da sexta-feira. Entre a manhã e o final da tarde daquele dia, o número de focos de calor aumentou de 25 para 1.886, de acordo com outro satélite. Ao final, foram computados 2.6 mil focos de calor.
Áreas onde houve queimadas:
Das queimadas em vegetação nativa, as formações florestais foram as mais afetadas (13,57% dos focos de calor).
“Os dados mostram que o principal alvo do fogo foram as áreas já desmatadas, ou seja, as que já tinham algum tipo de uso. Portanto, podemos concluir que, se o fogo atingiu uma área de vegetação nativa, isso ocorreu porque ele escapou do local onde teve início”, afirma Wallace Silva, analista de pesquisa do IPAM.
Mais afetados
Cinco cidades têm 13,31% dos focos de calor ocorridos nos três dias no estado de São Paulo: Pitangueiras (3,36%); Altinópolis (3,28%); Sertãozinho (2,4%); Olímpia (2,17%); e Cajuru (2,1%), todas na região de Ribeirão Preto, com exceção de Olímpia, que fica no polo de São José do Rio Preto.
Recorde de queimadas
O número de focos de incêndio registrados no Brasil nos primeiros oito meses de 2024 (104.928), segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), é o maior desde 2010 (118 mil) e 75% acima do mesmo período no ano passado (59.925 mil). Ainda de acordo com o instituto, agosto já é o mês de 2024 com mais focos de incêndio para 16 estados. Em São Paulo, foram registrados 3.480 pontos no mês, o maior volume desde que os dados começaram a ser medidos, em 1998. Segundo o governo de São Paulo, 99,9% dos incêndios no estado têm origem por atividade humana.
O Ibama prevê que os focos de queimada pelo País devem se alastrar por mais dois meses e uma das estratégias é a contratação de aviões particulares, usados na pulverização de produtos agrícolas em plantações, para reforçar a estrutura de combate. Hoje, o governo já gasta, em média, R$ 10 milhões a cada duas semanas com a contratação desse serviço, que tem oferta limitada no País e depende de estudo prévio de local para pouso e pontos de abastecimento de combustível e água.