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Mais Leblon e menos Brasília: a nova vida do ex-superministro Paulo Guedes

Ele diz a pessoas próximas que não se arrepende do tempo que passou em Brasília, mas não dá sinais de ter saudades da vida como ministro. (Foto: Alan Santos/PR)

O ex-ministro de Bolsonaro Paulo Guedes, “PG” como é conhecido, fora do governo, retornou ao Rio de Janeiro, sua cidade natal, e engajou-se em tantas atividades que passou a ter uma rotina quase tão atribulada quanto nos tempos de “superministro” da Economia, cargo que ocupou durante todo o governo Bolsonaro, de 2019 a 2022.

Aos 75 anos, está sempre correndo, como volta e meia conta a amigos. Dedica a maior parte do tempo ao seu novo negócio na área de transição energética, mas desdobra-se ainda em empreitadas na áreas de educação, na presidência de uma fundação e nas redes sociais.

A correria é no sentido figurado. O apreço de Guedes é pelas caminhadas. Retomou o hábito de andar pela orla carioca com passos firmes e ligeiros, ritual cumprido todas as manhãs. As andanças — e a distância dos muitos problemas de Brasília — o ajudaram a conquistar o menor peso em três décadas, segundo relato feito a pessoas próximas.

Paulo Guedes não passou a viver recluso, mas tampouco quer aparecer em entrevistas. O ministro eloquente deu lugar a um empresário discreto, que foge dos jornais e também da política — para essa reportagem, Guedes não quis conceder entrevista.

Desde que deixou o governo, os contatos com os ex-colegas de Esplanada rarearam. Mais pela falta de tempo do que por arestas ou mágoas, costuma explicar a interlocutores. O fato é que seria possível contar numa das mãos as vezes em que conversou com Bolsonaro ou com outros colegas, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas — que foi ministro da Infraestrutura. As poucas interações, inclusive, foram por telefone.

Fora do cenário

Amigos até que tentaram convencê-lo a engajar-se em campanhas como a de Marina Helena (Novo) à prefeitura de São Paulo. Ou, ao menos, trocar algumas palavras com Pablo Marçal (PRTB), o fenômeno eleitoral que fez brilhar os olhos de parte da direita. PG desviou. Segundo um amigo, a resposta é sempre que ele está “muito ocupado”. Trabalho não lhe falta, mas Guedes quer se manter distante da política.

Ele diz a pessoas próximas que não se arrepende do tempo que passou em Brasília, mas não dá sinais de ter saudades da vida como ministro. A quem o pergunta, ele descarta uma empreitada eleitoral. Admite, no entanto, que não se furtaria a dar conselhos a quem desejar montar um programa liberal para disputar contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026. Foi assim que ele se aproximou lá atrás de Jair Bolsonaro, que buscava alguém para dar consistência ao seu plano.

Setor privado

Ajudar alguém outra vez não está descartado, repete Guedes a amigos e colegas. Adonar-se novamente de um gabinete num órgão público é outra história. Dias atrás, quando o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, declarou que, se Bolsonaro indicasse, ele aceitaria o ex-ministro na prefeitura, o economista confidenciou a amigos ver como despropositada a afirmação. Mesmo lisonjeado com a lembrança, entende que já cumpriu seu “dever cívico” ao fazer parte do governo passado, afirmou a um interlocutor.

No momento, Guedes vem multiplicando as frentes de atuação. Fundou a YvY Capital, empresa dedicada a investir em projetos de transição energética, em conjunto com o ex-presidente do BNDES Gustavo Montezano. A empresa, que é hoje o seu principal negócio, reúne ainda nomes da gestão Bolsonaro como o ex-ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite, além do ex-presidente da Organização Mundial de Comércio (OMC) Roberto Azevêdo.

Há um ano, PG vem se dedicando também a dar aulas de macroeconomia aplicada em um curso de MBA lançado em parceria com o empresário e influenciador Thiago Nigro, conhecido nas redes como “Primo Rico”. Até o início de 2025, espera colocar em operação uma escola de medicina robótica em parceria com duas universidades privadas, e iniciar as atividades da “Vivens”, uma escola de “negócios verdes”.

Apesar da vida nova, Guedes fez questão de manter um hábito que o acompanhou nos quatro anos em que ocupou a cadeira de ministro da Economia: a pregação a favor do “caminho da prosperidade”, que inclui obediência aos preceitos liberais e a ojeriza ao socialismo. Sem o holofote que o cargo lhe conferia, PG lançou-se na carreira de influencer. As informações são do jornal O Globo.

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