O ministro do Interior venezuelano e número dois do chavismo, Diosdado Cabello, informou nessa terça-feira (17) que as autoridades detiveram um quarto americano ligado a um suposto plano para assassinar o ditador Nicolás Maduro. O anúncio ocorre três dias após a polícia venezuelana ter detido três americanos, dois espanhóis e um tcheco, acusados de participação de suposta conspiração para “desestabilizar” o país, e a apreensão de, segundo Cabello, “mais de 400 armas” que seriam utilizadas em “atos terroristas” promovidos por “setores políticos”.
“Outro cidadão de origem norte-americana foi capturado (…), nós o seguíamos, ele foi capturado aqui em Caracas tirando fotos de instalações elétricas, instalações petrolíferas, unidades militares”, disse Cabello em comparecimento perante o Parlamento, e acrescentou: “Fique tranquilo, pois este senhor faz parte do plano contra a Venezuela, do plano contra o nosso país.”
No último dia 14, o ministro informou a detenção dos espanhóis José María Basua e Andrés Martínez Adasme, com quem apontou “ligações” entre estes indivíduos e o Centro Nacional de Inteligência de Espanha, e de três americanos, identificados como Wilbert Josep Castañeda, um “militar ativo” dos EUA, identificado pelo ministro como o “chefe” do plano, Estrella David e Aaron Barren Logan.
Cabello disse em coletiva que os estrangeiros detidos estavam envolvidos em conspirações “terroristas” que tinham como objetivo “atentar contra a vida do Presidente” e “desestabilizar o país”, na sequência das eleições presidenciais de 28 de julho, cujo resultado oficial, a reeleição de Maduro, é amplamente contestado por grande parte da comunidade internacional e da oposição interna. Ainda segundo o número dois do regime, a líder da oposição, María Corina Machado, estaria por trás da suposta conspiração.
As prisões ocorreram em um contexto de tensões diplomáticas entre Caracas e os governos de Espanha e dos Estados Unidos, que exigem a publicação das atas eleitorais, após alegações de fraude por parte da oposição, que aponta a vitória do ex-candidato Edmundo Gonzalez, atualmente asilado em Madri.
O ex-diplomata é acusado de cinco crimes pelo Ministério Público venezuelano e tornou-se alvo de um mandado de prisão no início do mês, após ter ignorado três intimações para depor. Nesta terça-feira, um painel de especialistas da ONU denunciou a repressão à oposição na Venezuela como um “plano contínuo e coordenado” do governo Maduro e concluiu que há “exercício arbitrário de poder” pelo regime chavista, com violações de direitos humanos, incluindo crimes contra a humanidade, cometidas no âmbito de um “plano” para “reprimir” a oposição.
Conversa com opositores
Também nessa terça-feira, dias após os EUA imporem sanções contra 16 venezuelanos por “fraude eleitoral”, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, conversou por telefone com María Corina e González, a quem garantiu que Washington “continuará defendendo o retorno às liberdades democráticas” no país sul-americano.
De acordo com o Departamento de Estado, o secretário “elogiou sua coragem e seu compromisso com os princípios democráticos frente à repressão brutal e adversidade”, mas sem esclarecer se conversaram sobre um eventual reconhecimento de González como presidente eleito. Blinken, ainda segundo comunicado do Departamento de Estado, afirmou que os EUA “lutarão para garantir que a vontade dos eleitores venezuelanos seja respeitada e que o presidente Nicolás Maduro e seus representantes prestem contas por seus atos”.
No início de agosto, o secretário de Estado americano afirmou que González venceu a eleição presidencial no país, desencadeando uma onda de regional de apoio ao ex-diplomata e contrariando o resultado divulgado pelo Conselho Nacional Eleitoral do país, que proclamou Maduro vitorioso mas sem apresentar as atas. Dias antes, um reconhecimento semelhante havia sido feito por parte do subsecretário de Estado dos EUA para o Hemisfério Ocidental, Brian Nichols.
González e María Corina acusam fraude na votação e afirmam que o ex-diplomata foi o verdadeiro vencedor, segundo atas da votação a que alegam terem tido acesso. Os líderes da oposição criaram um site — foco das intimações contra o ex-diplomata — para publicar as cópias desses comprovantes. O governo Maduro considera as atas da oposição “forjadas”. As informações são da agência de notícias AFP.