A manifestação convocada pore Jair Bolsonaro no domingo (25) na Avenida Paulista, em São Paulo, reacendeu os alertas no Palácio do Planalto com relação ao público evangélico.
Esse segmento do eleitorado foi amplamente favorável ao ex-presidente na eleição de 2022, e é um grupo com quem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem tido dificuldades para dialogar. Auxiliares de Lula têm defendido que é preciso dar uma sinalização ao público, mas ainda não sabem ao certo o que fazer.
A Casa Civil, a Secretaria de Relações Institucionais (SRI), a Secretaria-Geral da Presidência e a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) também têm demonstrado preocupação com o assunto. Enquanto pesquisas encomendadas pela Secom mostram a resiliência do bolsonarismo nas igrejas, auxiliares das outras pastas palacianas têm insistido com Lula desde o ano passado sobre a necessidade de um diálogo mais direto com os religiosos.
O presidente resiste a fazer essa investida, alegando que não gosta de misturar política como religião. Mas, no evento de domingo, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro atacou justamente esse ponto, ao tentar reforçar a percepção de que há uma “guerra santa” na política nacional, colocando o petista do lado do “mal”, em meio aos problemas judiciais do marido.
“Por um bom tempo formos negligentes ao ponto de dizer que não poderiam misturar política com religião. E o mal tomou e o mal ocupou o espaço. Chegou o momento, agora, da libertação”, afirmou Michelle.
O ato na Paulista foi organizado e custeado pelo pastor Silas Malafaia, da igreja evangélica Assembleia de Deus Vitória em Cristo.
A fala de Lula na semana passada, comparando o Holocausto à ofensiva israelense que já matou quase 30 mil pessoas em Gaza, além disso, funcionou como combustível e até mesmo de estímulo para a participação de evangélicos no ato, avaliam fontes do governo.
Além disso, a capacidade de mobilização de Bolsonaro chamou a atenção, ao atrair milhares de pessoas à Avenida Paulista. De passagem por São Paulo, integrantes de escalões menores do governo se impressionaram com a quantidade de pessoas e o entusiasmo demonstrado pelos manifestantes.
O sentimento é que os bolsonaristas e a extrema-direita, que aprendeu a se mobilizar nas ruas desde 2013, estavam carentes desse tipo de evento desde que Bolsonaro perdeu a eleição.
No governo, há avaliações distintas sobre o discurso do ex-presidente. Para alguns, ele recuou algumas casas e conseguiu evitar um tom muito beligerante da grande maioria dos oradores. Mas mostrou que está com receio de seu futuro.
Bolsonaro convocou a manifestação há duas semanas, depois de ter se tornado alvo de uma operação da Polícia Federal que apura tentativa de golpe de Estado, abolição do Estado Democrático de Direito e associação criminosa em 2022, durante seu governo.
No discurso, o ex-presidente evitou os recorrentes ataque ao Judiciário, pregou pacificação e pediu anistia aos condenados pelos atos do 8 de janeiro, que invadiram e depredaram sedes dos três Poderes contra a eleição de Lula.