Quarta-feira, 05 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 24 de outubro de 2020
Antes de receber Barack Obama em sua cadeira de maquiagem para o último debate com Hillary Clinton, nas primárias democratas de 2008, Kriss Blevens viu o futuro presidente americano fazer uma oração com a equipe. Muito ligada em energia e espiritualidade, como ela gosta de frisar, sentiu uma brecha para se juntar a eles. E rezou também. Logo depois, estava passando base e pó no rosto de Obama para que ele apresentasse sua melhor imagem na TV.
O ofício de Kriss há quase 30 anos é esse: maquiar políticos, o que faz dela uma das veteranas no segmento. Trocar experiências sobre espiritualidade é um bônus, o negócio é mesmo deixá-los bem na foto. Desde 1992, quando viajou por todos os Estados Unidos com Pat Buchanan nas primárias republicanas, seus pincéis já passaram pelo rostos dos Clinton (Bill e Hillary), de George W. Bush, Bernie Sander, Elizabeth Warren e dos atuais candidatos Donald Trump e Joe Biden. “Fazê-los sentir-se bem é meu trabalho. Acho que é um dom.”
Kriss tem 56 anos e mora em Manchester, New Hamsphire, onde concentra também sua ocupação política. O estado, apesar de não ser tão representativo assim para o país, é chave para os partidos, pois é o segundo a definir quem será o candidato dos democratas e dos republicanos. Quem vence ali costuma ganhar muita atenção da mídia, então a ajuda de Kriss e sua equipe é fundamental. “Eles vêm, fazem debates, campanha. É tudo muito íntimo. Depois, vão para outras regiões, mas não passam tanto tempo como ficam aqui”, diz ela, que trabalha com os dois partidos e garante não ter preferências. “Sou registrada como eleitora independente.”
Depois das semanas intensas, ela ainda costuma viajar com um ou outro político em campanha ou em serviço. Joe Biden já a contratou em algumas ocasiões, quando era vice-presidente. “Ele é muito amigável, engraçado e adora bater papo.” Mas Kriss deixa claro que só conversa se o cliente quiser. O objetivo é criar um ambiente seguro e confortável. “Não falo muito. Se querem ficar de conversinha, tudo bem. Mas crio espaços intimistas. Peço para fecharem os olhos, às vezes passo o pincel pelo rosto, massageio. Quando você relaxa, está no melhor cenário para dar uma mensagem clara”, diz ela. Donald Trump consegue baixar a frequência? “O presidente tem muita energia. Com ele, é melhor eu trabalhar rápido.” E também não mexer no cabelo. “Sempre vem com os fios prontos.”
Apesar de conviver com muitos homens (ainda um retrato da política), Kriss sempre sente enorme prazer em trabalhar com mulheres e dividir mensagens de autoestima com elas, que sofrem infinitamente mais com o peso da exposição do que os concorrentes masculinos. “Todas nós, políticas ou não, temos inseguranças, especialmente em situações de escrutínio público. E as mídias sociais julgam demais”, diz a maquiadora. “O que faço é tentar dar confiança e conversar sobre vulnerabilidade. Uma das coisas mais importantes é criar uma marca registrada e mantê-la. Consistência (no visual) deixa menos margem para críticas.”
Uma história sobre esse tema que ela gosta de contar envolve Hillary Clinton. Quando foi maquiar a então senadora pela primeira vez, em 2007, a assistente dela entregou a Kriss um batom laranja. A experiência com o assunto falou alto: a candidata a presidente não ficaria bem com aquilo. “Eu pensava em uma coisa mais marrom e não em algo tomate. Hillary falou: ‘Faça o que você quiser’”, relata a profissional. “Converso com elas sobre o que as deixam mais confortáveis, mas não tenho medo de fazer sugestões”, diz Kriss.