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Por Redação O Sul | 6 de setembro de 2019
Parecia improvável, mas Diego Maradona, de 58 anos, aceitou a proposta para ser o novo técnico do Gimnasia La Plata, da primeira divisão argentina. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (5).
A provável estreia acontecerá no próximo dia 15, contra o Racing. É contratação em que, como sempre acontece no país, futebol, política e peronismo se misturam.
“A condição do time na tabela é um desafio para Diego, mas isso não será problema. Se você olhar a carreira dele vai ver o quanto gosta de desafios”, afirma Matías Morla, advogado de Maradona e responsável por conduzir as negociações.
O Gimnasia La Plata é o último colocado no promédio do futebol local. É como se chama a média de pontos tirada dos últimos cinco anos para determinar as equipes rebaixadas.
O maior ídolo da história do futebol do país, campeão mundial em 1986 e vice em 1990 está afastado desde junho, quando deixou o Dorados, segunda divisão mexicana. Ele chegou ao clube com a promessa de que o faria chegar à elite, mas não teve sucesso.
A última vez que o ex-camisa 10 foi técnico na Argentina aconteceu entre 2008 e 2010. Ele era treinador da seleção nacional e caiu após a eliminação nas quartas de final do Mundial da África do Sul. Foi seu trabalho mais significativo. Ele também comandou o Mandiyú (4ª divisão) em 1994, Racing (1995), Al-Wasl, dos Emirados Árabes (2011-2012), Al-Fujairah (2017-2018) e Dorados (2018-2019).
Está acertado que Maradona não comandará todos os treinos do elenco do Gimnasia por causa de sua condição física. O novo técnico se recupera de cirurgia no joelho e faz tratamento diário com fisioterapeuta. De dieta para perder peso, também recebe injeções para tratar lesão no ombro direito sofrida quando estava em Dubai.
“Assim que apareceu a ideia [da contratação], as pessoas não acreditaram na possibilidade. Mas Diego foi receptivo desde o primeiro instante. Era questão de acertar alguns detalhes”, disse o presidente do Gimnasia La Plata, Gabriel Pellegrino. “É aquisição que tem a capacidade de mexer com o país. É um ídolo de todos.”
Maradona reaparece no imaginário argentino ao mesmo tempo em que Cristina Kirchner deve voltar ao poder. O ex-jogador é apoiador da política que deve ser eleita vice-presidente na chapa encabeçada por Alberto Fernández em 27 de outubro. Cristina foi presidente entre 2007 e 2015 e Diego já era partidário do marido dela, Néstor Kirchner, mandatário entre 2003 e 2007 e morto em 2010.
“Me colocam a pecha de kirchenista. Falta pouco para voltarmos”, disse Maradona no final de agosto.
Cristina é torcedora do Gimnasia La Plata, embora não tenha tido qualquer influência na contratação do técnico. O Racing, possível rival na estreia, era a equipe do coração de Néstor Kirchner, que costumava disputar peladas com auxiliares às terças-feiras em Buenos Aires com a camisa do clube.
Maradona pode ter papel midiático também no retorno do kirchenismo. Foi a presidência de Cristina Kirchner a criar o “Fútbol para Todos” (Futebol para Todos, em espanhol), o programa governamental que comprava os direitos de transmissão dos jogos de futebol, distribuía entre a TV Pública e as emissoras amigas do regime e repassava o dinheiro para os clubes.
O projeto foi encerrado por Mauricio Macri, presidente que deve deixar o poder para dar lugar à Alberto Fernández-Cristina Kirchner. Macri é ex-presidente do Boca Juniors, clube que tem Maradona como torcedor. Mas os dois sempre viveram às turras.
Com financiamento não declarado do governo federal na época de Cristina Kirchner, barras bravas viajaram à África do Sul para a Copa do Mundo de 2010. Vários acabaram barrados pela imigração. Quando os atos violentos praticados por eles no futebol local foram criticados, a presidente disse que eles não eram tão ruins assim.
A provável vice sempre gostou de colar sua imagem a de Eva Perón, ex-mulher do presidente Juan Domingo Perón entre 1946-1955 e 1973-1974, quando morreu. Evita se tornou uma das imagens mais usadas pelo peronismo, movimento que extrapolou a política e está presente em diferentes partes da vida argentina. Diego Maradona sempre se disse peronista.
Os salários de Maradona e da comissão técnica exigida por ele para comandar o dia a dia do elenco profissional serão pagas por patrocinadores. Um deles será a Le Coq Sportiff, empresa de material esportivo que veste o Gimnasia e que fabricou os uniformes da seleção na conquista do título mundial de 1986. O torneio que consagrou o camisa 10. Uma cadeia de hotéis ofereceu suíte para que o treinador permaneça em La Plata pelo tempo que quiser. Mas ele deverá ter uma casa na cidade paga pelo clube.