Quinta-feira, 28 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 28 de julho de 2015
Marcelo Odebrecht sempre foi o empresário do olho no olho, assertivo e controlador, quase sempre como forma de persuadir o interlocutor. A altivez era a característica do homem que, aos 45 anos, comanda um império que faturou 107 bilhões de reais em 2014. Assim ele era, ao menos até o último dia 19, quando cenas de sua prisão mostraram um empresário acuado, cabisbaixo. O dono da maior empreiteira do País figura hoje entre os presos da Operação Lava-Jato, um emaranhado de denúncias que o afastou, assim como seus pares e concorrentes, da liderança de alguns dos principais negócios feitos no Brasil e no mundo.
Preso sob acusação de pagar propina, destruir provas e buscar influência política para inflar seus negócios, o empresário foi vítima do raciocínio rápido, que o fez anotar cada um de seus passos no celular, registros que agora servem para incriminá-lo. O aluno de uma das quatro maiores escolas de negócios do mundo foi denunciado à Justiça por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa.
Obcecado por anotações, ele acabou traído por elas. E-mails, recados no celular, convites para jantares, mensagens no WhatsApp, conselhos para advogados, apreendidos pela PF (Polícia Federal), revelaram, segundo os investigadores, que ele conhecia profundamente o funcionamento de todo o esquema de corrupção que envolve sua empresa. Nenhum dos investigados da Lava-Jato teve tanto material escrito analisado por agentes da PF como ele.
Segundo pessoas próximas a Marcelo, ele é dotado de “inteligência cartesiana”, com capacidade de concentração para o trabalho acima da média. É um workaholic. Essas características foram decisivas para que ele fosse conduzido à presidência da companhia, em janeiro de 2009.
Marcelo teve a bênção de todo o clã Odebrecht para conduzir os negócios, não só por ser um herdeiro natural, mas por ser empreendedor, capaz de desenvolver a empresa e imprimir aos negócios um ritmo ainda mais arrojado que seus antecessores. Ele passou por um polimento acadêmico antes de chegar ao topo da empresa. Fez mestrado em uma das quatro melhores escolas de negócios do mundo, a IMD, em Lausanne, na Suíça.
De uma receita de 38 bilhões de reais, em 2009, o grupo saltou, sob a gestão dele, para um faturamento de 107 bilhões de reais em 2014.
As centenas de páginas anexadas ao processo mostram que Marcelo dispensava a mesma atenção a discussões sobre valores de contratos, pedidos de encontros com políticos, planos de financiamento em bancos internacionais e veiculação de reportagens que envolvam seu grupo ou seus interesses. Nos e-mails trocados com diretores da empreiteira nos últimos anos, o estilo não muda: direto e conciso.
A Odebrecht é suspeita de pagar propinas a diretores da Petrobras no exterior em troca de vantagens em ao menos seis contratos. A propensão de Marcelo por escrever suas ideias veio à tona em 22 de junho, quando agentes da carceragem da PF apreenderam duas folhas de papel que o empresário pretendia entregar aos advogados.
O que alertou os policiais foi a frase “destruir e-mail sondas”, que poderia indicar a estratégia de apagar registros de troca de e-mails. Para a defesa, porém, a palavra “destruir” foi usada pelo empresário com o intuito de rebater os argumentos apresentados pela Lava-Jato. Além dessa frase, as duas folhas de papel tinham longa lista de medidas a serem tomadas.
Três dias após ser preso, Marcelo discutia em detalhes a estratégia que deveria ser usada. Mas isso se mostrou um erro e deixou rastros: seu celular e seus e-mails acabaram nas mãos dos investigadores. E viraram provas contra ele mesmo. (AG)