Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 9 de junho de 2024
O ator Marcelo Serrado falou sobre os episódios de pânico que vivenciou nas duas últimas semanas, conforme havia publicado relatos nas redes sociais. “Vai dar tudo certo. Eu acredito nisso. Estou confiante. Ainda é difícil para mim”, diz o artista, em entrevista ao Fantástico.
O primeiro vídeo postado pelo ator foi feito no fim de maio, logo após ele chegar a Orlando (Estados Unidos) para uma viagem de férias com a família.
“Quando fechou a porta do avião, me deu um negócio”, diz ele. “A boca ficou mais seca. O pé começou a ficar gelado. Eu já peguei uma manta.”
Após tomar medicação e fazer consultas com o terapeuta, ele se recuperou nos dias seguintes e ficou bem durante a viagem. Mas voltou a se sentir mal quando foi voltar ao Brasil. No aeroporto de Miami, prestes a decolar, ele teve outra crise. Disse que estava tendo “um troço”.
“Entrei no voo e quando a porta fechou… Eu já senti um negócio. Medo. Mas não era um medo de avião. Era um medo de eu surtar. Você começa a fazer a projeção do futuro, né? Daqui a pouco eu vou me ver ali, deitado ali no chão. Eles vão ter que desviar o avião.”
Dessa vez, Serrado não conseguiu embarcar. Pediu para sua esposa voltar ao Brasil com os filhos deles, e optou por ficar nos Estados Unidos por mais um dia, na casa de amigos. No dia seguinte, tentou novamente, e conseguiu.
As crises
O ator explicou que, durante as crises, pensava em situações catastróficas, o que acelerava seus batimentos cardíacos. “Sabe aquele personagem herói de filme de ação que o bicho vai entrando dentro dele e quando você vê ele, você está tomado por ele?”, diz Serrado.
Um dos maiores especialistas brasileiros em transtornos de ansiedade, Marcio Bernick explicou ao Fantástico as diferenças entre crise de pânico e medo de avião. Diferentemente do medo da aeronave, a crise de pânico aérea está, em geral, associada a fobias vividas dentro do avião.
“O medo não é do avião, é do corpo dele, das reações, do mal estar que ele vai sofrer”, diz Bernick. “Dos pensamentos acelerados, do desconforto emocional, do coração batendo, da falta de ar, da boca seca, da tremedeira, da xixizeira, toda a reação de adrenalina que ele vai ter, usando um termo popular, que é muito desconfortável.”
A primeira vez que o ator viveu uma crise de ansiedade foi em dezembro de 2020, em meio ao isolamento social causado pela Covid-19.
Ele estava num hotel e lidava com o luto da morte de seu amigo Eduardo Galvão. “Comecei a sentir sensações estranhas.” Serrado foi ao médico para investigar a sensação, e descobriu que estava tendo uma crise de pânico.
Foi aí que ele iniciou o tratamento com medicamento, e entrou para a terapia. Se medicou durante um ano e meio até parar por conta própria, o que hoje reconhece como erro.
“Eu fiz o desmame sozinho. Sem falar com o médico. Eu achei que eu estava bem. Foi um erro meu. Um erro meu. Porque eu não posso fazer isso.”
O especialista Bernick recomenda que, ao ver alguém em crise de pânico, a pessoa não deve desmerecer os relatos de agonia, ou sugerir que se trata de frescura. Em vez disso, deve afirmar que compreende os relatos e ressaltar que, provavelmente, nada de ruim vai acontecer.
“Eu me sinto um vencedor, entendeu, no sentido de, de uma coisa pequena que tive, que não foi nada para muita gente, mas, desculpa, e que consegui passar por isso”, diz Serrado.
“É pensar no hoje. Continuar trabalhando. Fazendo as pessoas alegres. Dando risada. Sendo leve na vida. Não pesando nas coisas. E é isso.”