A líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, foi levada por supostos agentes do governo após liderar um protesto na véspera da posse do presidente Nicolás Maduro, mas solta logo depois ser forçada a gravar vídeos. A denúncia foi feita pela oposição venezuelana nessa quinta-feira (9).
A ex-deputada estava na clandestinidade no país após ser alvo de ameaças de prisão pelo regime, e reapareceu publicamente nessa quinta pela primeira vez depois de mais de cem dias de paradeiro desconhecido. A ditadura de Maduro negou a detenção, com o número dois do regime, Diosdado Cabello, classificando a informação de “invenção, mentira”.
Apesar de não ter sido candidata nas eleições presidenciais, María Corina foi o principal rosto da oposição que tenta desbancar o ditador Nicolás Maduro, no poder desde a morte de Hugo Chávez, em 2013. Ela contesta o resultado das eleições de 28 de julho, que proclamaram o chavista vencedor, e argumenta que Edmundo González Urrutia, seu aliado, é o verdadeiro presidente eleito.
Velha conhecida da política venezuelana, a ex-deputada venceu por ampla margem as primárias da oposição celebradas em outubro do ano passado, mas não pôde registrar sua candidatura por estar inabilitada politicamente por 15 anos. Hoje com 56 anos, María Corina, que fundou em 2012 o partido Vem Venezuela, ficou conhecida por liderar a oposição mais linha-dura contra o então presidente Hugo Chávez.
Nascida em Caracas, em uma família conservadora e católica fervorosa, seu apoio sempre foi limitado às classes mais altas do país e a parte dos venezuelanos no exílio. Mas hoje seus atos reúnem centenas de apoiadores das classes populares, inclusive nos redutos chavistas, longe da capital. Nessa quinta, ela apareceu no bairro comercial de Chacao, em Caracas, antes da detenção negada pelo regime.
Engenheira industrial de formação, María Corina se destacou durante seu mandato, entre 2011 e 2014, como uma deputada combativa — e principalmente por suas críticas ferozes, tanto ao regime quanto à oposição. Uma das principais articuladoras das manifestações contra o governo de Maduro, em fevereiro de 2014, teve seu mandato cassado no mês seguinte pela Assembleia Nacional da Venezuela, comandada na época pelo chavista Diosdado Cabello, número dois do regime. Depois, em 2015, foi inabilitada politicamente e proibida de deixar o país.
Oposição a Guaidó
Nos últimos anos, se opôs tanto ao autoproclamado governo interino de Juan Guaidó, que buscava o fim do chavismo pelo confronto, quanto ao setor moderado da oposição, que defendia a estratégia de retomar a via eleitoral para derrotar o governo nas urnas.
Seu nome, no entanto, se diluiu nos anos seguintes entre outros opositores. Em 2022, e após o fim do reconhecimento internacional de Guaidó, a “dama de ferro” voltou a atrair eleitores, desta vez lotando comícios em bairros mais pobres, ex-redutos chavistas.
Em junho do ano passado, sua inabilitação, que havia expirado em 2016, foi prorrogada para 15 anos, justamente quando sua campanha começava a deslanchar. A Controladoria, comandada pelo agora presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Elvis Amoroso, acusa agora a ex-deputada de corrupção e de promover sanções contra o país.
Por sua vez, a opositora acusou Maduro de descumprir o Acordo de Barbados, firmado em 2023, quando o governo anunciou uma data para as eleições de 2024, com a participação e observação de órgãos internacionais em troca da suspensão de algumas sanções impostas pelos EUA. No entanto a decisão que desqualificou María Corina de se candidatar levou Washington a anunciar o restabelecimento das sanções.
Em novembro passado, a opositora tornou-se alvo de uma investigação da Procuradoria da Venezuela por “traição à pátria” ao supostamente apoiar um novo pacote de sanções dos Estados Unidos contra o seu país. Ela também é alvo de uma investigação do Ministério Público venezuelano por supostamente estar por trás de um suposto ataque hacker que teria tentado invadir o sistema de transmissão de votos durante as eleições presidenciais.