Sexta-feira, 22 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 2 de fevereiro de 2021
É sabido que o mau hálito, também conhecido como halitose, acontece principalmente pela falta de higiene bucal. No Brasil, aproximadamente 30% da população sofre com este problema, segundo a Associação Brasileira de Halitose. Mas se a higiene bucal está sendo feita corretamente e o mau cheiro persiste, pode ser um alerta para outras condições, como uma inflamação, ou denunciam o agravamento de uma doença já instalada, como o câncer e a cirrose. Fique atento ao seu hálito e descubra se ele está indicando algum problema.
Gengivite e outras inflamações na via oral
Essas são as causas mais frequentes de halitose, e surgem como principal consequência da falta de higiene bucal.
“A gengivite e outras inflamações na boca causam um acúmulo de bactérias no local, que atuam na área inflamada e em restos alimentares contidos na boca, provocando a liberação de gases com cheiro desagradável”, diz o gastroenterologista Décio Chinzon, do Laboratório Pasteur, em Brasília. O hálito provocado pelas inflamações da via oral exala um cheiro de enxofre, em decorrência dos resíduos deixados pelas bactérias.
Doenças do aparelho digestivo
Embora essa não seja a principal causa de mau hálito, doenças como gastrite por Helicobacter pylori e refluxo gastroesofágico também geram o mau hálito.
“Pode existir retardo no esvaziamento dos alimentos do estômago, que sofrem uma fermentação por ação de bactérias, liberando odores desagradáveis”, explica o gastroenterologista Décio. Além disso, os gases liberados pelo refluxo podem deixar na boca o odor do alimento que foi ingerido, no caso daqueles mais marcantes, como alho e cebola.
Doenças no trato respiratório superior
O gastroenterologista Guilherme Andrade, do Hospital 9 de Julho, em São Paulo, explica que entre 5 e 8% das causas de mau hálito se concentram em doenças do trato respiratório superior, como sinusite, rinite alérgica, amigdalite e laringite.
“O catarro gerado por essas doenças, juntamente com a ação das bactérias causadoras da inflamação, são responsáveis pelo mau hálito”, diz. O cheiro gerado por esses problemas no geral é o de muco, por conta da concentração de catarro.
Doenças no trato respiratório inferior
Enfermidades no trato respiratório inferior são aquelas que afetam a traqueia, pulmões, brônquios, bronquíolos e alvéolos pulmonares – um exemplo é a bronquite. “Essas doenças podem causar um acúmulo de secreções no pulmão, servindo de alimento para as bactérias, que produzirão gases mal cheirosos”, afirma o gastroenterologista Guilherme.
O mau hálito causado pelas doenças tanto do trato respiratório inferior, quanto superior, pode ser agravado com o tabagismo, pois fumar só contribui para o acúmulo de secreção nesses órgãos, além do odor característico que o cigarro deixa na boca.
Diabetes
O endocrinologista Felipe Henning Gaia, do SalomãoZoppi Diagnósticos, em São Paulo, explica que o diabetes por si só não causa mau hálito. No entanto, ele pode contribuir para alteração no odor bucal em duas circunstâncias.
“Em pacientes com diabetes tipo 1 que parem de usar insulina, pode ocorrer o fenômeno de cetose (quando o pâncreas converte gorduras e ácidos graxos e corpos cetônicos), e o paciente pode apresentar o hálito cetônico, que se assemelha ao cheiro de maçã”, afirma o especialista.
Além disso, pacientes com um controle ruim do diabetes podem sofrer uma proliferação bacteriana na cavidade oral, em resultado do descontrole glicêmico. Nesse caso, o odor é parecido ao causado pelas inflamações da via oral.
Doenças hepáticas
A insuficiência hepática e outros problemas que afetam o fígado, como a cirrose, podem causar diferentes tipos de mau hálito. No fígado acontece a síntese das substâncias absorvidas pelo nosso organismo, e seu mau funcionamento compromete esse processo, ocorrendo a liberação dessas substâncias pelas vias aéreas, quando elas na verdade deveriam ser excretadas.
O odor do chamado hálito hepático é de terra molhada, que pode piorar e se tornar insuportável, conforme a gravidade da doença. “Esses cheiros característicos chamam a atenção do médico, e devem deixar o paciente já diagnosticado em alerta para as complicações”, diz o gastroenterologista Décio.
Câncer no estômago
O câncer de estômago em estado avançado inicia um processo de “putrefação” do tecido canceroso, gerando o odor que passa pelas vias aéreas e causa um hálito fétido, do tecido necrosado que chega até a boca – é o chamado hálito necrótico.
“Esse e outros cânceres do sistema digestivo causam esse odor porque crescem de uma tal maneira que as células em volta começam a morrer, como se o câncer estivesse apodrecendo a região”, alerta o gastroelterologista Guilherme. “Esse hálito pode ser dividido em cinco graus, sendo o grau um hálito brando, e o cinco um odor insuportável.”
Insuficiência cardíaca
Para funcionar corretamente, o coração usa a glicose para obter energia e bombear o sangue para o corpo. Nos casos de insuficiência cardíaca, nos quais o coração está deficiente, ele passa a quebrar ácidos graxos em vez da glicose, liberando os corpos cetônicos.
Um estudo realizado no Instituto do Coração (Incor), pela Faculdade de Medicina e pelo Instituto de Química da Universidade de São Paulo, identificou que o nível de acetona exalado pelos pacientes cardíacos pode ser até 10 vezes maior do que nas pessoas saudáveis, dependendo da gravidade da doença.