Quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 18 de fevereiro de 2025
A sotagliflozina, um medicamento indicado para o tratamento de pacientes com diabetes, doença renal e fatores de risco cardiovasculares adicionais, reduz de forma significativa o risco de infartos e derrames, mostram os resultados de um ensaio clínico internacional liderado por pesquisadores do Mount Sinai, nos Estados Unidos, publicados na revista científica The Lancet Diabetes & Endocrinology.
O remédio é um inibidor do cotransportador de sódio e glicose (SGLT). Ele age bloqueando a função de duas proteínas, a SGLT1 e a SGLT2, que movem as duas substâncias através das membranas das células e ajudam a controlar os níveis de açúcar no sangue. Os testes foram financiados pela Lexicon Pharmaceuticals.
O novo estudo é o primeiro a demonstrar que um inibidor de SGLT proporciona os dois benefícios cardiovasculares observados. Para os pesquisadores, os achados significam que a sotagliflozina pode se tornar mais amplamente utilizada para reduzir o risco dos eventos cardiovasculares fatais em todo o mundo.
“Esses resultados demonstram um novo mecanismo de ação para reduzir o risco de ataque cardíaco e derrame. Os benefícios observados aqui são diferentes dos observados com os outros inibidores SGLT2 muito populares em uso clínico generalizado para diabetes, insuficiência cardíaca e doença renal”, diz Deepak L. Bhatt, diretor do Mount Sinai Fuster Heart Hospital e líder do estudo, em comunicado.
O trabalho analisou cerca de 10,6 mil pacientes com doença renal crônica, diabetes tipo 2 e fatores de risco cardiovasculares adicionais. Os voluntários foram divididos em dois grupos, em que um recebeu o medicamento, e o outro recebeu placebo, e foram acompanhados por uma média de 16 meses.
Entre aqueles que fizeram uso da sotagliflozina, foi observada uma redução de 23% na taxa de infartos, derrames e mortes por essas causas cardiovasculares em comparação com o grupo do placebo.
“Os médicos agora têm uma nova opção para reduzir o risco cardiovascular global, como insuficiência cardíaca, progressão da doença renal, ataque cardíaco e acidente vascular cerebral, em pacientes com insuficiência cardíaca ou diabetes tipo 2, doença renal crônica e outros fatores de risco cardiovascular”, defende Bhatt.
Para ele, com os “novos e importantes dados”, “poderemos ver um uso mais difundido” da medicação. O remédio é vendido sob o nome comercial de Inpefa pela Lexicon Pharmaceuticals nos EUA, onde recebeu o aval em 2023. No Brasil, ainda não tem autorização para venda pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A sotagliflozina é o primeiro inibidor de SGLT a proporcionar uma redução significativa nos eventos cardíacos graves, acima de 20%. Porém, outras classes de medicamentos para diabetes também têm demonstrado benefícios para a saúde do coração.
Em 2023, testes com a semaglutida, princípio ativo do Ozempic, da Novo Nordisk, mostraram uma redução de 20% na incidência de ataque cardíaco, derrame ou morte por doença cardiovascular entre aqueles que usavam a medicação.
A semaglutida pertence à classe de agonistas do GLP-1, ou seja, exerce uma ação diferente no corpo daquela da sotagliflozina para regular os níveis de açúcar no sangue. Os estudos sobre o impacto cardíaco foram conduzidos com o Wegovy, que utiliza uma dose maior de semaglutida e tem indicação para tratamento da obesidade, inclusive no Brasil.
Por isso, nos EUA, a Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora americana, aprovou, no ano passado, que o Wegovy também seja indicado para reduzir o risco de morte cardiovascular, ataque cardíaco e derrame em adultos com doença cardiovascular e obesidade ou sobrepeso.