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Brasil Médico que se apropriou de terras na Amazônia e fez fortuna chegou a participar da Cúpula do Clima da ONU

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Segundo a investigação, há pelo menos 20 anos ele se tornou um dos maiores grileiros de terras no Norte do Brasil. (Foto: Reprodução)

Nascido no interior de São Paulo e médico de formação, Ricardo Stoppe Junior construiu a imagem de empresário que transformou a preservação do meio ambiente em um negócio milionário, atraindo investimentos de multinacionais e de fundos da Faria Lima até ser preso pela Polícia Federal (PF).

Aos 56 anos, ele foi um dos alvos da Operação Greenwashing, deflagrada no início do mês pela PF de Rondônia contra um suposto esquema de venda ilegal de R$ 180 milhões em créditos de carbono lastreados em terras griladas da União e de reserva indígena, por meio de fraude em cartórios e pagamentos de propina a servidores públicos.

Até a operação policial, Stoppe Junior se apresentava como um fazendeiro que optou pelos créditos de carbono porque ganharia mais dinheiro na Amazônia do que criando gado. À imprensa, ele dizia estar há 20 anos no local, mas que sentia ter nascido ali.

Nas redes sociais, Stoppe Junior demonstra ser um bolsonarista convicto. Teve diversas publicações derrubadas pelo próprio Facebook por informações falsas e chegou a defender intervenção militar em postagens. Seu filho, também investigado pela PF, doou R$ 5 mil ao ex-presidente Jair Bolsonaro na campanha de 2022.

Stoppe Junior afirma investir desde o início dos anos 2010 em créditos de carbono, que têm lastro em projetos que geram redução de danos ambientais. Uma unidade equivale a uma tonelada de CO2 que deixou de ser emitido. Empresas podem comprar esses créditos para compensar eventuais impactos de suas atividades na atmosfera e no meio ambiente. Foram esses créditos que ele conseguiu vender a grandes multinacionais e fundos de investimentos.

“Hoje, somos o maior produtor de crédito de carbono do mundo”, disse em uma entrevista ao canal AgroMais. Segundo ele, um dos ativos de sua empresa era a Fortaleza de Ituxi, que “começou em uma área de 133 mil hectares preservada”, no sul do Amazonas.

A área do projeto do qual o empresário se gaba é uma das principais na mira da PF. Investigadores identificaram um esquema segundo o qual ela foi registrada sobre terras da União e na terra indígena Kaxarari, no sul do Amazonas. A corrupção em cartórios e a apresentação de documentos falsos que acabaram avalizados pela Justiça fez com que parte dessas terras chegasse a dobrar de tamanho, segundo a investigação.

São matrículas que foram abertas em cartório com a data de aquisição do terreno nos anos 80, mas que, logo após o registro, foram transferidas a pessoas ligadas a Stoppe Junior. Na investigação, não faltam diálogos sobre esses esquemas. Em uma das conversas, o empresário menciona propinas a uma oficial de cartório de Apuí, na região amazônica.

Investigação

Ricardo Stoppe Junior foi preso em junho deste ano. Mas as operações de busca e apreensão contra ele e os sócios continuam. Em julho, a Polícia Federal e o ICMBio foram até Lábrea, no interior do estado do Amazonas, outra região em que o grupo atuou e que ainda é ocupada e visitada por pessoas ligadas ao médico.

Parte da área, onde há rios e cachoeiras, foi transformada na Floresta Nacional do Iquiri em 2008, mas Ricardo Stoppe ainda resolveu enfrentar a União pedindo uma indenização de R$ 100 milhões porque afirmou que ele seria o dono das terras. O processo foi suspenso pela Justiça.

Os fiscais foram até lá restabelecer a posse da floresta e voltaram a instalar a placa que é insistentemente arrancada pelos grileiros. Nela, o aviso: é uma área de proteção especial do estado.

A Polícia Federal identificou pelo menos 50 integrantes da organização. Os chefes do grupo, como Ricardo Stoppe Júnior e seus sócios, serão indiciados por desmatamento, corrupção de servidores públicos, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

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