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Medo de violência afugenta trabalhadores de seções eleitorais nos Estados Unidos

36% dos cidadãos que trabalharam no pleito de 2020 decidiram ficar em casa este ano. (Foto: Reprodução)

“Disseram que iriam me afogar, que meu corpo seria esquartejado. As pessoas querem que alguém seja executado aqui.” O “aqui” é Luzerne, pacata cidade de 80 mil habitantes a meia hora de carro de Scranton, onde nasceu o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, no Estado da Pensilvânia. As ameaças foram feitas este ano por telefone, e-mail, nas redes sociais. Quem as denuncia é Emily Cook, diretora da zona eleitoral de um dos distritos mais disputados em uma das unidades da federação mais decisivas para as eleições dos Estados Unidos, em exatos 50 dias.

Emily aparece no especial que a rede CBS passou na semana passada calcado em números da Bipartisan Policy Center, instituição dedicada a elaborar pontes entre os dois lados do tabuleiro político — 36% dos cidadãos que trabalharam no pleito de 2020 decidiram ficar em casa este ano. No topo dos motivos, em entrevistas com profissionais de, entre outros estados, Colorado, Maryland e Texas, o medo de violência política.

Já marcada pelo atentado em julho contra o ex-presidente Donald Trump em comício na mesma Pensilvânia, a disputa pela Casa Branca teve novo capítulo inusitado neste domingo com a investigação pelo FBI de uma segunda tentativa de assassinato do ex-presidente quando ele praticava golfe em seu campo em West Palm Beach, na Flórida. O candidato republicano à Presidência estava no local, nada sofreu e escreveu em sua rede social “estar são e salvo”.

Um suspeito trocou tiros com o Serviço Secreto e foi detido pela polícia após uma testemunha vê-lo entrar em um carro e anotar a placa. O xerife do condado de Palm Beach informou que, perto dos arbustos onde estava o indivíduo, foram encontrados “um fuzil estilo AK-47 com mira telescópica” e “uma GoPro usada para tirar fotos”. Biden e a vice-presidente Kamala Harris, adversária do republicano nas eleições de novembro, se solidarizaram com Trump e afirmaram que “não há lugar para violência política nos EUA”.

Ainda é cedo para entender o efeito de uma segunda tentativa de assassinato de um dos candidatos na corrida pela Casa Branca e de eventuais falhas do Serviço Secreto em protegê-lo. Como o voto não é obrigatório nos EUA, motivar os eleitores a sair de casa em dia útil rumo às urnas é essencial. Mas o recorde de abandono de postos de emprego bancados pelos estados para o bom funcionamento das eleições em mais de duas décadas é, por si só, indício de insegurança eleitoral no momento em que Kamala e Trump estão empatados na margem de erro nas médias nacionais das pesquisas e nos estados mais decisivos.

E até mesmo a reação ao êxodo dos profissionais que validam documentos, contam votos e arbitram disputas nas eleições escancara o tamanho da polarização política americana. Os republicanos veem no fenômeno risco de eventuais erros, especialmente na validação de eleitores, algo que usam para repetir as mentiras de que legiões de mortos e imigrantes em situação irregular votarão em novembro nos democratas. Estes, por sua vez, detectam nas ameaças aos “operários da democracia” consequência direta da retórica dos que teimam em não reconhecer suas derrotas nas urnas. As informações são do jornal O Globo.

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