Política e mentira: uma não existe sem a outra. O sujeito entra na política e logo aprende a mentir, se já não era antes um mentiroso. A favor dos políticos diga-se que não há nada de mais humano do que a mentira. Sou humano, logo minto. Há exceções? Deve haver. Talvez a irmã Dulce, que está para ser canonizada.
O problema dos governantes e dos políticos é que eles exageram na dose. Em qualquer dia da semana, se você folhear os jornais, “en passant” identificará 10 ou 12 mentiras digamos, oficiais, daquelas de corar até aqueles caras de pau que, na internet, nos prometem milagres para curar a calvície, a disfunção erétil e até para aprender inglês dormindo.
O deputado comunista (PCdoB-BA) é a favor da formação de uma comitiva oficial para ir à Roma na canonização da já citada Irmã Dulce. “É a primeira vez de uma santa brasileira”, justifica. Ao que se saiba, comunistas não acreditam em Deus e menos ainda em santa. Contradição e mentira são irmãs siamesas.
O governador de São Paulo, João Doria – que não terá o meu voto para cargo algum – afirmou, sem vestígio de rubor na face, que nunca foi bolsonarista. E o BolsoDoria na eleição em São Paulo? Ele não só não repeliu como aderiu alegremente. Foi bom enquanto durou. Agora, com o olhar voltado para 2022, deita e rola em cada mancada presidencial.
Outro governador, Wilson Witzel, afirmou semana passada, que o Rio de Janeiro era o segundo lugar mais seguro do Brasil. Fiquei curioso para saber qual era o primeiro, mas o governador não declinou. Witz, em alemão, é piada. Witzel poderia ser traduzido como piadista.
Olavo de Carvalho, ele mesmo, o intelectual do regime, fez um apelo de trégua no fogo amigo entre os bolsonaristas: “um pouco de calma, discrição e senso de proporção não faz mal a ninguém”. Então o sujeito que mais cria baderna no campo de Bolsonaro, que já desancou e xingou quase todo o governo, logo ele, pede calma? Ou ele mentiu antes quando atiçou fogo em tudo o que lhe deu vontade, ou mente agora ao pedir paz. Olavo diplomata, conciliador? É “fake” puro.
Michel Temer entrou com tudo na área fértil da enganação: “Eu jamais apoiei ou fiz empenho pelo golpe” (do impeachment de Dilma). Doutor Temer, quando li, corei pelo senhor!
Já o ministro Sérgio Moro, que é novo no pedaço (da política), logo aprendeu um feio hábito: creditar-se de méritos que não lhe pertencem. Isso cola nos fãs de carteirinha e na multidão dos desatentos e distraídos, que não confere e não presta atenção nos detalhes. Moro se gaba do aumento de apreensão de cocaína e da redução do número de mortes e de roubos de veículos e de cargas, como se fosse o resultado do seu trabalho e do governo Bolsonaro.
A apreensão de cocaína vem aumentando ano a ano desde 1996! E os homicídios e roubos de veículos e de cargas vêm diminuindo desde 2018. Moro e o governo Bolsonaro só combateram a criminalidade no papel, como no caso do pacote antiviolência, que nem foi aprovado ainda.
Segundo Moro, “os tempos do Brasil sem lei e sem justiça chegaram ao fim”. Há controvérsias, doutor. É cedo para cantar vitória. Por enquanto é mentira das boas.