Domingo, 20 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 17 de abril de 2025
A crise no mercado global de alto luxo não afetou o consumidor brasileiro. Apesar da desaceleração do setor em grandes mercados como Estados Unidos, Europa e China, o Brasil segue na contramão, com um aumento no interesse por bens exclusivos e de alto valor.
Essa tendência se reflete na expansão de espaços em shopping centers dedicados a grifes de luxo e nos lançamentos de produtos. O principal indicativo, no entanto, é a chegada de novas marcas ao Brasil, como a boutique japonesa Comme Des Garçons, a californiana que combina moda esportiva e de lazer Alo Yoga, a grife espanhola Loewe e a de fragrâncias Le Labo Fragrances. Além disso, mesmo lojas icônicas já consolidadas no País, como Tiffany & Co, Balenciaga e Zegna, tem investido na ampliação de suas lojas e na inauguração de novas unidades.
Esse movimento também é confirmado por pesquisas que analisam os números do setor. Um estudo da consultoria Bain, em parceria com a Fondazione Altagamma – associação dos fabricantes italianos de bens de luxo –, estimou no final do ano passado que o mercado global de luxo deve registrar uma queda de até 3% em 2024, considerando a correção cambial, fechando o período com uma movimentação de € 1,48 trilhão (R$ 9,18 trilhões). Essa seria a primeira retração do setor desde a crise financeira de 2009. No entanto, o mesmo estudo apontou que a América Latina, com destaque para Brasil e México, segue em crescimento, tendência que deve se manter em 2025.
Na contramão
A queda global seria ainda maior se não fosse a expansão dos serviços de luxo. O consumo mundial com hospitalidade de luxo subiu 4%, no ano passado, e com alimentação gourmet e restaurantes finos, 8%. Por outro lado, a queda nas vendas de bens pessoais de luxo foi de 2%, para € 363 bilhões (R$ 2,2 trilhões). No Brasil, segundo consultores especializados no segmento, isso não aconteceu, e mesmo esse mercado de itens refinados cresceu no ano passado.
“Existe uma tendência mundial já há algum tempo de maior consumo em experiências, para aproveitar a vida e cuidar da saúde, em vez da posse de bens. No Brasil, isso também acontece, os serviços de luxo crescem mais, mas a compra de bens também cresce”, afirma o consultor Gabriele Zuccarelli, o sócio da Bain especialista em varejo de luxo. “O Brasil ainda tem um mercado incipiente, menos maduro e com tendência a crescer. O consumo interno também se beneficia do câmbio em alta, que fez as pessoas viajarem menos.”
Nos últimos dados consolidados do segmento no Brasil, a Bain contabilizou um mercado que movimentou R$ 74 bilhões no ano de 2022, com uma expectativa de atingir os R$ 133 bilhões, em 2030. O público potencial consumidor de luxo tinha subido de 730 mil pessoas, em 2014, para 1,3 milhão, em 2022, dobrando a fortuna disponível para essa classe mais favorecida, para US$ 720 bilhões (R$ 4 trilhões).
Para 2030, a consultoria estima que haverá 1,5 milhão de brasileiros acumulando US$ 1,1 trilhão (R$ 6,3 trilhões), uma vez que as riquezas devem crescer três vezes mais rapidamente do que o número de indivíduos muito ricos.
Para a consultoria especializada em luxo MCF Consultoria, do especialista no segmento Carlos Ferreirinha, a expansão de vendas no Brasil, no ano passado, ficou em torno de 12%.
“Os resultados vêm mantendo forte ritmo de crescimento em todas as regiões do País e com destaque para alguns setores, principalmente, o imobiliário de alto padrão”, diz Ferreirinha. São muitos os fatores para a expansão. Mas destaco o crescimento da renda concentrada, que tem sido forte e expressivo nos últimos anos. Há mais dinheiro disponível e o crescimento da riqueza de certa forma segue positivo.”
Segundo o CEO da Tiffany, Anthony Ledru, o Brasil está entre os dez maiores mercados de luxo do mundo, reflexo do crescimento no consumo de produtos de alto padrão no pós-pandemia. Para a marca, essa tendência representa uma oportunidade estratégica, enquanto, para o consumidor brasileiro, o movimento confirma um desejo crescente por experiências e produtos exclusivos. “Estaremos entre as três primeiras, se não a marca de luxo número um do País. Essa é a nossa ambição”, diz Ledru. Com informações do jornal O Estado de S. Paulo