As carreiras ligadas ao mercado financeiro sempre ocuparam um lugar especial no imaginário de jovens em busca de profissões bem remuneradas. Contudo, a própria timidez do mercado de capitais brasileiro sempre atuou como uma barreira psicológica para muita gente, que via o mundo das finanças como algo restrito e exclusivo para as grandes fortunas.
Ultimamente, essa visão tem mudado com uma série de avanços tecnológicos e mudanças estruturais na economia brasileira. Por um lado, as plataformas abertas de investimentos contribuem para a democratização do mercado de capitais. Por outro, a queda da taxa básica de juros do País, que começou ainda em 2016, ampliou o interesse em classes de ativos fora de renda fixa, dando mais dinamismo ao mercado.
Com o assunto entrando cada vez mais nas redes sociais e começando a fazer parte das rodas de conversas entre amigos e famílias de classe média, é natural que o interesse não fique restrito apenas aos investimentos pessoais. Diante do quadro atual, uma quantidade cada vez maior de pessoas começa a olhar o mercado como oportunidade para seguir carreira, seja o jovem que acabou de ingressar na faculdade ou aquele profissional em busca de novas áreas.
Enquanto alguns tentam a sorte como day trader, operando de casa em busca de ganhos rápidos, outros pensam com foco no longo prazo e planejam seguir carreira em uma grande instituição financeira. Considerando essa demanda, professores de finanças e profissionais do mercado explicam quais são as funções mais promissoras e bem remuneradas neste momento.
De acordo com o guia salarial para 2021 da Robert Half – empresa de recrutamento executivo -, a remuneração média de um analista no começo de carreira é de R$ 13,85 mil mensais. Enquanto um profissional mais experiente pode chegar a ganhar em torno de R$ 27,75 mil, o salário de um diretor de análise pode variar entre R$ 26,15 mil e R$ 46,8 mil.
Além de analista e day trader, outros profissionais da área são assessor de investimentos e broker, além de gestor e investment banker. O assessor de investimentos, por exemplo, é o profissional que atua como agente autônomo (AAI) ligado às corretoras. Na XP, maior corretora do País, estão 77% dos assessores do mercado, segundo a consultoria AAWZ.
Segundo Bianca Juliano, responsável pela escola de MBAs da XP, a empresa repassa mensalmente à sua rede de AAIs cerca de R$ 20 mil por assessor, por meio das comissões.
Mas para exercer a função é necessário ter uma veia empreendedora e gostar de se relacionar, aponta ela. “É um trabalho que também envolve educação financeira, uma vez que o assessor acaba sendo uma espécie de professor para o investidor iniciante, apresentando o mercado e explicando diferentes estratégias de alocação.”
Youtubers e influenciadores no retrovisor
Apesar de as posições mais cobiçadas remunerarem bem, é ilusória a visão de que o profissional vai ficar milionário e se aposentar para curtir a vida em poucos anos. Contra soluções mágicas vendidas por youtubers e influenciadores digitais, os especialistas garantem que são necessários anos de trabalho duro para ser bem sucedido. O alerta se faz ainda mais necessário num contexto de forte influência das redes sociais.
Segundo pesquisa divulgada pela B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, na última segunda-feira, 14, 60% dos novos investidores da Bolsa acompanham influenciadores para obter informações sobre o mercado, enquanto 32% confiam nas recomendações deste grupo.
“Viver do mercado financeiro não é ficar tomando champanhe e esquiando em Aspen (EUA) toda hora”, afirma Michael Viriato, professor de Finanças do Insper. “Quantas horas a pessoa está disposta a trabalhar e estudar? Quantos fins de semana está disposta a sacrificar? Nem todo mundo tem essa disposição, existe um trabalho exigente por trás do glamour que vendem.”
De fato, as posições de destaque no mundo das finanças também são conhecidas pela carga horária puxada, com jornadas que às vezes superam 12 horas diárias ou vão madrugada adentro. A resiliência e a habilidade de trabalhar num ambiente de pressão constante também são vistas como indispensáveis.
O CEO da Trevisan Escola de Negócios, VanDyck Silveira cita o caso do indiano Aswath Damodaran, famoso professor de finanças da Universidade de Nova York, para exemplificar como cada um precisa conhecer o próprio perfil antes de escolher uma carreira. Ele explica que Damodaran recusou vários convites de instituições financeiras depois de concluir seu PhD, preferindo ganhar menos na academia. “Respeito muito a sua escolha, porque mostra autoconhecimento. Não adianta ganhar muito dinheiro se você tem uma vida infeliz.”
Uma forma de não se decepcionar é fazer uma pesquisa prévia detalhada sobre cada carreira. Além de aproveitar artigos online, a pessoa também pode fazer cursos introdutórios sobre o mercado, que apresentam um panorama geral sobre diferentes áreas. Por mais que alguns materiais nesse sentido estejam disponíveis gratuitamente na internet, algumas instituições também oferecem cursos de pós-graduação mais generalistas (leia mais abaixo).
“Para os estudantes, também é recomendável fazer estágio em bancos ou corretoras, para conhecer melhor as diferentes áreas”, comenta José Guilherme Chaves, coordenador da pós-graduação virtual em Mercado Financeiro e de Capitais da PUC-Minas.
Com o mercado mapeado, o passo seguinte é fazer um plano de carreira e entender quais são os certificados, especializações e habilidades exigidas para a profissão escolhida. “Aqui, é sempre importante ver a reputação da faculdade. É natural que as empresas olhem com mais atenção para os profissionais formados nas melhores escolas”, destaca Joelson Sampaio, coordenador do curso de Economia da FGV-EESP.
Em relação à graduação, também é normal que o mercado privilegie formados em áreas como Engenharia, Economia e Administração. No entanto, o coordenador do MBA Banking da FIA, Roy Martelanc, vê espaço para profissionais oriundos de outros segmentos. “É um mito que você precisa ser PhD em matemática para trabalhar no mercado financeiro. É necessário ter essa área bem resolvida, mas não é uma barreira intransponível.”