O governo russo baixou um decreto, no fim de semana, permitindo que o país pagasse credores externos de sua dívida em rublos mesmo que esses títulos fossem denominados em moeda estrangeira.
O país tem uma dívida de US$ 33 bilhões em títulos em dólar e, após a publicação do decreto, o mercado já estima em 80% o risco de um calote no país. A dívida externa total da Rússia é de US$ 41 bilhões.
O custo para oferecer seguro para a dívida russa em dólar – credit default swap, ou CDS, um contrato que é uma referência para medir o risco de um país entrar em calote – disparou para US$ 5,8 milhões para os títulos de US$ 10 milhões e prazo de cinco anos, segundo dados da ICE, a maior câmara de compensação deste tipo de apólice.
Esse valor embute um risco estimado em 80% de calote.
Fuga de investidores
A Rússia tem sofrido uma fuga de investidores após sanções de Estados Unidos e União Europeia por causa da invasão na Ucrânia terem bloqueado a movimentação das reservas internacionais do país, que são de US$ 630 bilhões.
O país segue pagando os credores, mas muitas vezes em contas não podem ser acessadas pelos investidores por causa das sanções.
Alguns títulos emitidos em dólar e euro pela Rússia preveem, em contrato, que o pagamento possa ser feito em outras moedas, inclusive rublo. Mas nem todos os bônus em moeda estrangeira do país usam esse mecanismo
“Ainda não está claro o que vai ocorrer, mas poderemos ter um calote oficial em um dos cupons (pagamento de juros) de dívida previsto para 16 de março”, avalia Anthony Kettle, gerente senior de portfólio da BlueBay Asset Management.
Ele se refere a dois pagamentos de juros previstos para títulos emitidos em dólar, no valor total de US$ 117 milhões, cuja data de vencimento é 16 de março. Esses títulos não têm em contrato previsão de pagamento em rublo.
O mercado internacional de títulos da dívida de governos tem um período de graça – durante o qual não é considerado um calote, mesmo que o país não honra um pagamento – de 30 dias.
Nota de crédito
As agências de classificação de risco Fitch e Moody´s rebaixaram a nota de crédito da Rússia para junk ou “lixo”, o que significa que as agências consideram que é grande a possibilidade de um calote do país. Foi uma decisão brusca: a nota de crédito da Rússia foi rebaixada em seis níveis de uma só vez – o que não ocorria com nenhum outro país há 25 anos.
Já a S&P rebaixou o rating soberano da Rússia em oito níveis para CCC-, apenas três degraus acima da dívida que já entrou em default. A S&P havia acabado de cortar a Rússia para a classificação de lixo BB+ na sexta-feira passada, e a empresa disse que o governo continua sob vigilância negativa, o que significa que pode ser rebaixado ainda mais.
“O rebaixamento segue a imposição de medidas que acreditamos que provavelmente aumentarão substancialmente o risco de inadimplência”, escreveu a S&P em comunicado. “Entre eles estão os controles de capital introduzidos pelas autoridades que visam proteger o rublo do impacto de severas sanções econômicas, preservando as reservas remanescentes utilizáveis”.
Paralelamente, os provedores FTSE Russell e MSCI decidiram remover a Rússia de seus índices, por consideraram o investimento em seu mercado de ações insustentável. As informações são da Agência Bloomberg e do jornal O Globo.