Terça-feira, 08 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 23 de março de 2025
Mesmo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) declarando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) inelegível até 2030, ele insiste em se declarar como favorito da direita na eleição presidencial de 2026. Com os incisivos votos da ministra Cármen Lúcia e do ministro Alexandre de Moraes, a Corte formou, no ano passado, um placar de 5 votos a 2 para enquadrar o ex-chefe do Executivo por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação em razão da reunião em que atacou as urnas eletrônicas diante de diplomatas.
Pense em uma estrada congestionada. De repente, um caminhão se atravessa no meio da pista e não consegue sair do lugar. Essa imagem ilustra a situação dos postulantes da direita e centro-direita à Presidência da República. Todos querem andar e sair do lugar. Exibem as qualidades dos seus carros, que teoricamente poderiam lhes dar alguma vantagem. Um tem mais tração na largada, outro mantém um desempenho mais constante. E há ainda aquele que fez muitas reformas no veículo para atender às demandas das rodovias modernas. Mas nada disso adianta – nem adiantará – enquanto o dono do caminhão mantiver o veículo parado no meio da estrada, impedindo a passagem.
Jair Bolsonaro (PL), que venceu a eleição em 2018, estimulou outros nomes da direita e centro-direita a saírem às ruas, manifestando a intenção de concorrer à Presidência da República. No entanto, ele próprio bloqueou o caminho. Inelegível até 2030 e correndo o risco de ser preso, Bolsonaro resiste a sair da estrada e dá sinais de que levará sua pré-candidatura até o limite do prazo legal – não apenas para manter sua influência, mas para evitar que outro nome da direita ocupe seu espaço.
A leva de nomes que busca herdar o espólio de Bolsonaro é formada, em sua maioria, por governadores. Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul; Ratinho Junior (PSD), do Paraná; Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo; Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás; e Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais. Além deles, dois outsiders aparecem no radar: o cantor sertanejo Gusttavo Lima (sem partido), que flertou com a ideia, mas recuou na última semana, e o influenciador Pablo Marçal (PRTB), que está inelegível, mas recorre para reverter sua situação na Justiça.
Assim, embolados nas pesquisas de popularidade em seus Estados, eles não avançam enquanto o ex-presidente não abrir caminho. Muitos disfarçam suas intenções e aguardam que, como se diz em Brasília, “o cavalo passe encilhado”.
Projeto
O discurso formal de Jair Bolsonaro (PL) e de aliados sobre a anistia do 8 de Janeiro tem se concentrado nos militantes presos. Mas o projeto de lei articulado na Câmara que propõe perdoar os crimes referentes àquele episódio têm brechas para beneficiar diretamente o ex-presidente.
Apesar de o projeto original, proposto pelo deputado Major Vitor Hugo (PL-GO), ter sido protocolado em 24 de novembro de 2022, mais de um mês antes dos ataques em Brasília, a proposição recebeu sete apensamentos para abarcar acontecimentos consecutivos.
O texto de Vitor Hugo prevê anistia a manifestantes, caminhoneiros, empresários e a todos que tenham participado de manifestações “em qualquer lugar do território nacional” – Bolsonaro estava nos EUA no momento dos atos golpistas –, mas um dos parágrafos amplia o perdão a quem tenha participado também do “financiamento, organização ou apoio de qualquer natureza”.
“A anistia de que trata o caput compreende crimes políticos ou com estes conexos e eleitorais. Consideram-se conexos os crimes de qualquer natureza relacionados com crimes políticos ou praticados por motivação política”, diz um parágrafo do documento, que recebeu críticas da ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT).
“Seriam perdoados como ‘crimes conexos’ os decretos do golpe, o plano de assassinato de Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes, a conspiração com os chefes militares, todos os crimes praticados por Bolsonaro e cúmplices contra a democracia, inclusive os eleitorais. (A anistia) Não é, nunca foi para as ‘senhorinhas da Bíblia’”, disse Gleisi em rede social. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.