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Por Redação O Sul | 2 de setembro de 2018
Com vários solavancos, diversas derrapagens e muita incerteza, a economia brasileira avançou e a produção do segundo trimestre foi 0,2% maior que a do primeiro. Muitos torciam por qualquer resultado maior que zero. Além desse, mais alguns dados animadores apareceram na atualização das contas nacionais.
A atividade continuou mais intensa que no ano passado e mais distante, portanto, do atoleiro da recessão. No período de abril a junho, o PIB (Produto Interno Bruto) foi 1% superior ao de um ano antes. O crescimento acumulado em quatro trimestres chegou a 1,4%, a maior taxa nesse tipo de confronto desde o começo da recuperação.
O quadro fica mais sombrio quando se considera em perspectiva mais limitada o balanço do primeiro semestre. Nesse período o PIB foi 1,1% maior que o de janeiro a junho de 2017, mas na maior parte do tempo o dinamismo foi baixo. A atividade foi fraca no primeiro trimestre, com ganho de apenas 0,1% (dado revisto) em relação aos três meses finais do ano anterior.
Houve reação em abril, mas o novo impulso foi interrompido em maio pelo bloqueio de rodovias. Os números de junho foram melhores na maior parte das atividades, mas insuficientes para salvar o período de abril a junho de um quase completo fiasco.
Na comparação do segundo com o primeiro trimestre só o setor de serviços, com avanço de 0,3%, apresentou alguma melhora. A agropecuária ficou estável e a indústria recuou 0,6%.
Os únicos segmentos industriais com resultados positivos foram o de utilidade pública (eletricidade, gás, água, esgoto e gestão de resíduos), com expansão de 0,7%, e o de extração mineral, com ganho de 0,7%. A indústria de transformação perdeu 0,8%, assim como a da construção.
O resultado da agropecuária, com crescimento zero entre o primeiro trimestre e o segundo, é menos mau do que pode parecer. Explica-se em boa parte pela perda de produtividade em relação ao ano anterior, quando houve um recorde na safra de grãos.
Mas neste ano a colheita desses itens é a segunda maior da história da agricultura brasileira. A agropecuária mantém-se como o setor mais produtivo e mais competitivo do Brasil, mesmo com a eficiência prejudicada pelas deficiências do transporte.
Novas políticas, bons projetos e muito investimento serão necessários para eliminar essas deficiências. Mas o Brasil continua investindo muito menos que o necessário em capital fixo – infraestrutura, outras construções, máquinas e equipamentos.
No segundo trimestre, a construção produziu 1,1% menos que um ano antes, mantendo uma longa sequência de resultados negativos.
A expansão do investimento produtivo tem dependido das compras de máquinas e equipamentos. Entre abril e junho, a formação bruta de capital fixo foi 3,7% maior que no período correspondente de 2017.
Mas o valor investido ainda ficou em 16% do PIB. Um ano antes estava em 15,7%, mas falta muito para se chegar à meta de 24% fixada há muitos anos.
Mesmo essa meta é modesta pelos padrões de economias mais dinâmicas que a brasileira. Não haverá crescimento sustentável de pelo menos 4% ao ano sem um aumento muito mais sensível da capacidade produtiva.
Baixa produtividade
Além disso, será preciso cuidar da produtividade da mão-de-obra, ainda muito baixa. Qualquer avanço significativo dependerá de padrões educacionais muito melhores, especialmente nos níveis fundamental e médio.
Apesar dos números medíocres, ou até abaixo disso, o crescimento do PIB tem contribuído para o aumento da arrecadação e para a melhora das contas públicas. O governo provavelmente fechará suas contas, neste ano, com alguma folga em relação à meta de R$ 159 bilhões de déficit primário, ou seja, sem a conta de juros.
Se a economia continuar crescendo, mesmo em marcha lenta, o novo presidente encontrará um legado melhor do que se imaginou nas piores fases do primeiro semestre. A incerteza política, um dos principais entraves à expansão econômica neste ano, continuará presente por algum tempo. Na melhor hipótese, o eleito converterá a incerteza em esperança.