Domingo, 24 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 2 de setembro de 2019
Enquanto esperavam Neymar na sala de imprensa do estádio Parque dos Príncipes, em Paris, os jornalistas brasileiros brincavam com a estimativa de quanto tempo levaria para o atacante agitar o retorno para o futebol espanhol. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
Dois anos foi a opinião comum. Era 4 de agosto de 2017, minutos antes de o brasileiro ser apresentado como reforço do PSG. Transação que ainda é a mais cara da história do futebol: 222 milhões de euros (R$ 1 bilhão em valores atuais).
Nessa, a imprensa acertou. O jogador de 27 anos fez o possível para deixar a França e voltar para o Barcelona. O Real Madrid também era uma alternativa. Pela primeira vez na carreira, Neymar ouviu um “não”.
A janela de transferências no futebol francês terminou nesta segunda-feira (2).
Quando quis sair do Santos, tinha o poder de barganha. Se esperasse mais um ano, a transferência seria de graça, o que colocava a pressão sobre os dirigentes. Ele já receberia 40 milhões de euros (R$ 184,3 milhões) de qualquer maneira. O clube brasileiro liberou um dos maiores jogadores da sua história por 17 milhões de euros (R$ 78,3 milhões) em maio de 2013.
Quatro anos depois, o Barcelona não queria vendê-lo. Prevaleceu no fim foi a vontade de Neymar. Quando ele sinalizou desejar ir para o Paris Saint-Germain, a família real do Qatar, que no final da cadeia de comando é quem tem a propriedade do time, autorizou o depósito dos 222 milhões de euros que representavam a multa rescisória.
O brasileiro se apresentou atrasado para a pré-temporada na França e foi xingado pela torcida em jogo que não atuou —não esteve em nenhuma das quatro partidas do PSG na temporada. O clima ruim em Paris não levou ao roteiro desejado pelo atacante, que era migrar para o Barcelona.
Pelo menos até janeiro, quando reabre a janela de transferências internacionais, o brasileiro terá de permanecer na liga francesa. O mais provável é que fique mais um ano.
Ao chegar em 2017, ele repetiu o mesmo discurso de jogadores contratados em transações milionárias. A transferência não era pelo dinheiro mas sim, pelo projeto. Neymar assinou contrato por salário de 36,8 milhões de euros por ano (R$ 169,5 milhões).
“Você já está querendo que eu saia?”, brincou o atacante, interrompendo uma pergunta para o presidente do PSG, Nasser Al Khelaifi, durante sua apresentação no Parque dos Príncipes.
A questão era premonitória sobre o problema que impediria, no final das contas, sua transferência para o Barcelona dois anos depois: o acordo assinado pelo brasileiro tinha multa rescisória? Al Khelaifi desconversou e falou sobre os planos para o clube. O novo camisa 10 seria o astro principal.
“Não são permitidas multas rescisórias em contratos pelas normas do futebol francês”, respondeu, horas mais tarde, o advogado Marcos Motta, especializado em direito esportivo e que auxiliou Neymar a fechar a transação.
Se não há valor estipulado para rescindir, ele só sai de Paris antes do final do vínculo, em julho de 2022, se o presidente assinar sua transferência.
Não ajudou a Neymar para prevalecer sua vontade o fato de dirigentes de PSG e Barcelona não serem melhores amigos. O clube francês até hoje tem o trauma da eliminação nas oitavas de final da Champions League de 2017 quando a equipe espanhola venceu por 6 a 1, reverteu desvantagem de quatro gols do primeiro jogo, e se classificou. Foi a maior atuação do brasileiro no Camp Nou.
Enquanto se recuperava de lesão no tornozelo, neste ano, o atacante citou esta partida como sua melhor lembrança em vestiários de futebol.
O PSG ainda contesta o resultado porque o Barcelona teve dois pênaltis duvidosos marcados a seu favor. O sexto e decisivo gol foi anotado em impedimento. O time apresentou um dossiê à Uefa contra a arbitragem.
Os diretores qatarinos também se irritaram com o interesse catalão no volante italiano Verratti.
A preferência do PSG era negociar Neymar com o Real Madrid. Aceitavam até fazer negociação semelhante a de Mbappé, 20, em 2017 quando ele trocou Mônaco por Paris. Seria um empréstimo com a obrigação de comprar após um ano. Mas as conversas não avançaram.
Na hora de fazer o que não queria (negociar com os catalães), Al Khelaifi tinha um poder que Santos e Barcelona não possuíram no passado: impor suas condições. A vontade de Neymar começou a ruir quando o atacante Ousmane Dembélé, 22, deixou bem claro que não aceitaria entrar como contrapeso na negociação e jogar pelo PSG, mesmo que por empréstimo. Era o nome preferido pelo presidente.
O clube também queria o meia croata Ivan Rakitic, 31, e o zagueiro Jean-Clair Todibo, 19, em definitivo, além de 130 milhões de euros à vista (R$ 599 milhões).
A chegada de Leonardo como diretor esportivo não ajudou no relacionamento. Segundo o Uol, Neymar ignora o dirigente quando o encontra no clube por avaliar que ele atrapalhou a transferência para o Barcelona.