O Mundial evidencia que Messi e Cristiano Ronaldo influenciam os hábitos de consumo até nos países mais sisudos e que torciam o nariz para estratégias de marketing décadas atrás. Nas ruas de Moscou, os craques emprestam seu prestígio internacional para os mais diversos produtos, de batata frita a perfume. Os anfitriões do Mundial tropeçam – quase literalmente – em banners, outdoors, letreiros e fachadas que estampam as caras do argentino e do português. Neymar, candidato a sucessor dos dois, aparece pouco.
A associação dos craques às marcas não é novidade. O que chama a atenção é a maneira como os dois se tornam garotos-propaganda de quase tudo, em uma disputa simbólica para saber quem influencia mais os torcedores. E isso reverbera na época do Mundial, evento no qual os anunciantes são vorazes.
A Avenida Volkov, no centro de Moscou, é um belo exemplo da disputa entre os atletas que monopolizam a escolha do melhor jogador do mundo nos últimos dez anos. Logo no seu início, do lado ímpar, Messi e sua barba meio ruiva atestam que uma marca de batata frita pode “acordar a paixão pelo futebol”. Obviamente, em russo. Depois de 20 metros, Cristiano Ronaldo tenta convencer que sua chuteira faz milagres nas peladas da principal república da antiga União Soviética.
Vender chuteiras é uma obviedade. Chama a atenção o rosto do português em uma perfumaria chique do shopping Oroty Nryady, um dos principais da cidade e localizado no subsolo da Praça Vermelha, cartão-postal do país. E o português está vendendo seu próprio perfume entre um Clive Christian e o DKNY. Em um edifício pomposo em frente ao parque Gorky, outro símbolo russo, o argentino aparece imenso com uma camisa vermelha, homenagem aos donos da casa.
“É difícil escolher um ou outro. Acho que são bons exemplos para os jovens”, diz a empreendedora Dasha Kornilova. “Também temos grandes esportistas, mas eles não têm força mundial”, opina o engenheiro mecânico Dimitri Ostenko.
Messi e Cristiano são dois dos três esportistas mais bem pagos do mundo (os valores incluem salários, prêmios e patrocínios). De acordo com a lista da revista Forbes, o argentino faturou R$ 111 milhões no último ano; o português, R$ 108 milhões. O primeiro é o pugilista Floyd Mayweather, com R$ 285 milhões; Neymar, que aparece apenas em anúncios no interior de lojas esportivas na Rússia, é o 5.º (R$ 90 milhões).
Para Eduardo Corch, especialista em marketing esportivo, as marcas buscam o endosso dos atletas em relação aos produtos. “Esses jogadores têm uma grande capacidade de influenciar os consumidores de forma positiva”, diz o especialista. “O Mundial é um grande espetáculo midiático e precisa desses personagens. Isso é só um couvert das próximas semanas”, completa Marcos Hiller, especialista em gestão de marcas.