Dados do PNI (Programa Nacional de Imunização) do Ministério da Saúde apontam que cerca de metade das crianças brasileiras não recebeu todas as vacinas previstas no Calendário Nacional de Imunização em 2020.
Segundo os índices do PNI, atualizados até segunda-feira (07), a cobertura vacinal está em 51,6% para as imunizações infantis. O ideal é que ela fique entre 90% e 95% para garantir proteção contra doenças como sarampo (que tem índice ideal de 95%), coqueluche, meningite e poliomielite.
Neste ano, entretanto, a cobertura vacinal da primeira dose da tríplice viral (que protege contra sarampo, caxumba e rubéola) está abaixo de 60%. A da segunda dose está abaixo de 50%. Nenhuma das vacinas previstas no calendário infantil teve índices acima de 60%.
O baixo índice de imunização já tem consequências: dados do Ministério da Saúde mostram que, até o início de agosto, o país tinha 7,7 mil casos confirmados de sarampo. No ano passado, o Brasil perdeu o certificado de erradicação da doença.
Para Isabella Ballalai, pediatra e vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), o motivo da baixa cobertura é a pandemia de Covid-19, que levou as pessoas a ficarem em casa e não saírem para vacinar os filhos.
“Essa situação se repete no mundo inteiro. Houve uma queda entre 30% e 50%”, afirma Ballalai. A médica lembra que, apesar das quedas vistas nas taxas de imunização no Brasil nos últimos anos, o país continua com uma das melhores coberturas vacinais do mundo.
“Essa cobertura não é simplesmente um número. Sem cobertura vacinal, nós estamos suscetíveis a todas essas doenças – surtos de meningite, retorno da poliomielite”, lembra a pediatra. “Essas doenças eliminadas só estão eliminadas por causa da vacinação”, pontua Ballalai.
Outros fatores
O professor Túlio Batista Franco aponta para fatores políticos como contribuintes para a baixa cobertura vacinal. “Essa redução das vacinas certamente já é impacto da descoordenação que nós temos no Sistema Único de Saúde”, avalia.
“O governo federal desorganizou todo o equilíbrio técnico que havia no Ministério da Saúde. Houve duas alterações de ministros, e hoje há um ministro militar que não conhece dos aspectos da Saúde, do funcionamento da máquina do SUS, e que levou para as áreas técnicas militares que também não conhecem”, afirma.