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“Meu mundo acabou em 11 de janeiro”, diz investidor das Lojas Americanas

Barman perdeu R$ 90 mil com a derrocada da varejista. (Foto: Reprodução)

“Em 11 de janeiro, meu mundo acabou. Não consigo nem dormir direito. Perdi praticamente tudo. Até hoje não tinha comentado com ninguém. Está sendo muito difícil”, desabafou Pedro Henrique, pequeno comerciante de bebidas e barman de Petrópolis (RJ).

Ele entrou na Bolsa de Valores em 2020, quando a taxa Selic caiu a 2% e tirou a atratividade dos produtos de renda fixa. Naquele ano, investimentos atrelados ao CDI (taxa próxima à Selic) renderam 2,76%. A poupança teve uma rentabilidade ainda menor, de 2,11%, enquanto a inflação de 4,52% engolia os rendimentos reais, segundo dados do TradeMap.

O comerciante perdeu mais de R$ 91,9 mil com a derrocada das ações da Americanas (AMER3) após a empresa relatar, em 11 de janeiro, a descoberta de “inconsistências contábeis”. Desde então, do patamar de R$ 12, antes do rombo, os papéis chegaram às mínimas de R$ 0,64 em 20 de janeiro.

A quantia perdida por Pedro Henrique corresponde a mais de 90% das reservas que ele juntou durante quase seis anos trabalhando como barman e revendendo jogos de videogame. No total, investiu R$ 93.655,84 na compra dos ativos.

Na sua curta trajetória na Bolsa, o investidor deu preferência para duas empresas: Ambev e Americanas, ambas atreladas aos megaempresários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, sócios da 3G Capital, nos quais se inspirava. “Eu trabalho muito com bebidas e falar de Ambev é falar de tudo que está ali no meu dia a dia. Aí você começa a estudar quem são os donos dessas marcas. O trio me passava confiança”, afirma.

Pedro Henrique começou aplicando cerca de R$ 5 mil. À medida que as ações registravam quedas, foi aportando mais e mais em busca de fazer um “preço médio” mais baixo – até ficar totalmente exposto. Ou seja, investiu toda a sua reserva nos ativos.

A última compra foi em janeiro de 2022, no patamar de R$ 30, mas a desvalorização não cessou. Em 2021 e 2022, a AMER3 cedeu 89%. O comerciante parou de comprar.

Desvalorização

Apesar de não fazer novos aportes, acompanhava o mercado e ficou feliz quando foi anunciado que Sergio Rial, ex-CEO do Santander, assumiria a presidência da varejista no início de 2023. “Pensei que a ação fosse disparar”, diz o empreendedor. “Aliás, a Americanas tem os caras mais ricos do País. Não achei que poderia praticamente quebrar.”

Foi Rial quem identificou e divulgou as inconsistências nos balanços, após dez dias no cargo, e em seguida renunciou. Um escândalo que resultou em queda de mais de 70% no pregão seguinte ao fato relevante que revelou o rombo contábil.

Pedro Henrique está longe de ser o único a ter prejuízos por conta do colapso da varejistas. Existem, porém, algumas estratégias que podem ajudam os investidores a se proteger.

Reserva

Antes de investir em Bolsa, é necessário ter uma reserva de emergência – aquele capital que ficará na renda fixa, em investimentos com liquidez diária (que pode ser resgatado no mesmo dia da solicitação) e que o investidor só irá mexer em situações imprevisíveis e urgentes, como desemprego e gasto com saúde, por exemplo.

Separada essa reserva, caso tenha perfil, o investidor pode partir para os ativos de risco. Mesmo assim, não é indicado que o montante delimitado para renda variável seja totalmente investido num único ativo. Diversificação é fundamental para garantir que o acionista não perderá tudo numa crise.

“Quando o investidor escolhe a renda variável, deve entender que é um ambiente de imprevisibilidade. Ao investir em Bolsa, a possibilidade de ganhos expressivos é maior. Em contrapartida, há o risco de perdas”, afirma Ernani Reis, analista da Ágora Investimentos.

Outro equívoco diz respeito a como e quando fazer preço médio. Conforme as ações caíam, Pedro Henrique foi comprando cada vez mais AMER3 em busca de diminuir o preço médio pago por cada papel. Entretanto, não é porque uma ação recuou que está barata.

“Esse é o ponto principal: saber quanto vale uma ação. Se você sabe, não ficará comprando só porque o papel caiu”, diz Leandro Siqueira, da Varos. O especialista deu um exemplo.

Imagine que alguém compra, impulsivamente, ações por R$ 80. Depois, descobre que, na realidade, os papéis valem R$ 20. “Se a ação cair de R$ 80 para R$ 60, o investidor não deve comprar mais para ‘fazer preço médio’, pois a ação continua cara”, afirma Siqueira.

Hoje, o barman diz que não admira mais os acionistas da Americanas. Por mais que tenha cometido erros, não esperava ter de lidar com a dor de perder todo o patrimônio. O livro Sonho Grande, escrito pelo trio, virou um elefante branco em casa. “Até livro dos caras eu tinha”, lamenta.

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