Aos 70 anos, após superar um câncer de garganta e passar por uma forte crise matrimonial, Michael Douglas garantiu neste sábado (11) em entrevista à Agência EFE que se sente “com mais energia e vontade de trabalhar do que nunca” e se mostrou “feliz” por pertencer a uma indústria que, embora tenha mudado, “ainda precisa dos veteranos”.
Vencedor de dois Oscar e casado com Catherine Zeta-Jones, Douglas foi diagnosticado em 2010 com um tumor maligno no garganta. Submeteu-se então a quimioterapia e sete semanas de radiação, uma experiência que não duvidou em qualificar de “inferno”.
“Se houve algum momento em que não dei valor adequado à vida, já passou”, declarou. “Por isso sigo trabalhando com paixão. Foi uma bênção fazer ‘Minha Vida com Liberace’ logo depois do câncer, e depois chegaram grandes oportunidades que não esperava. Me sinto com mais energia e vontade de trabalhar que nunca”.
“Minha Vida com Liberace”, onde encarnava o músico homossexual Liberace, lhe deu um dos melhores papéis de sua carreira, segundo o próprio ator, que cita também os de “Wall Street –Poder e Cobiça” e “Um Dia de Fúria” como seus preferidos.
Encarnando Liberace, o artista ganhou o Emmy, o Globo de Ouro e o prêmio do Sindicato de Atores dos Estados Unidos (SAG).
Depois se divertiu com amigos em “Última Viagem a Vegas”, junto com Robert De Niro e Morgan Freeman, e agora mergulha no universo da histórias em quadrinhos da Marvel com “Homem-Formiga”.
“Nunca fiz em minha carreira algo assim. Nem sequer um filme com efeitos especiais, portanto pensei que seria divertido tentar. O que a Marvel fez até agora é excelente, portanto foi uma decisão fácil”, comentou.
Dirigido por Peyton Redd, “Homem-Formiga” narra as origens de um dos integrantes do grupo de heróis Vingadores, que já arrasaram nas bilheterias com dois filmes.
Dotado com o poder de reduzir seu corpo ao tamanho de um inseto e, ao mesmo tempo, aumentar sua força, um ladrão (Paul Rudd) que tenta refazer a vida se compromete a ajudar seu mentor, o doutor Hank Pym (Douglas), a proteger o traje que lhe proporciona esses dons e evitar que caia nas mãos erradas.
“Se tivesse esse poder, eliminaria todas as armas nucleares. Seria meu primeiro trabalho”, declarou Douglas.
Para preparar o papel, a Marvel enviou ao ator “dois anos de histórias em quadrinhos” para educá-lo nesse mundo, e Douglas se surpreendeu porque aquelas páginas continham mais desenvolvimento de personagens que vários filmes que tinha feito em sua carreira.
“A perda de sua esposa, a relação que mantém com a filha, a dualidade de cientista e guerreiro… Foi surpreendente”, comentou Douglas, que, no entanto, não sabe dizer se voltará a interpretar Pym em futuros filmes da saga.
“Não sei de nada, mas adoraria retornar ao personagem se me convidarem”, comentou.
Uma das vantagens de dizer sim ao projeto é que, segundo confessou Douglas, seus filhos de 14 e 12 anos finalmente o veem como alguém “cool”.
“Pela primeira vez sou ‘cool’ para eles. Não viram muitos dos meus filmes porque muitos são para maiores de idade. Mas quando ficou sabendo do ‘Homem-Formiga’, meu filho se tornou meu agente. Dizia que eu conquistaria um público novo, pessoas que não sabem quem sou”, lembrou entre risos.
Douglas vê neste tipo de filme certo paralelismo com o cinema de aventuras que ele mesmo protagonizou nos anos 1980, como “Tudo por uma Esmeralda” (1984) e “A Jóia do Nilo” (1985).
“Representam o mesmo cinema de evasão, com humor e dirigido a todos os públicos. É uma grande viagem para o espectador”, opinou.
Aquela época, o cinema dos anos 1970, 1980 e até mesmo dos 1990, é algo de que Douglas sente saudades.
“Eram tempos divertidos. Os cineastas mandavam. Agora são os estúdios que controlam tudo. Antes te davam um orçamento e confiavam em seu critério. Existia credibilidade”, afirmou o ator, que, apesar de tudo diz não estar “amargurado” por isso.
“Pelo contrário, me sinto afortunado de ter experimentado esse período e estou feliz de pertencer a uma indústria que ainda precisa de veteranos. Não há muitos trabalhos onde se possa ter 70 anos e ainda sentir-se querido e valorizado”, ponderou.
Além disso, se sente orgulhoso porque o cinema e, especialmente, a televisão (cita séries como “Will and Grace” e “The Big Bang Theory”) ajudaram a oferecer retratos cotidianos de personagens homossexuais.
“A decisão do Supremo (de legalizar o casamento gay nos Estados Unidos) me deixou contente e aliviado. É incrível que o movimento tenha conseguido essa reviravolta e acho que a ficção pode dizer que cumpriu seu papel”, concluiu. (EFE)