Quarta-feira, 08 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 21 de maio de 2017
Em seu segundo pronunciamento sobre a crise da delação da JBS, Michel Temer encontrou um fio narrativo para se apegar, apostando na clássica desqualificação dos acusadores e de seus métodos, além de piscar para a elite política e empresarial que serviu de esteio para seu frágil governo até aqui.
Ao jogar a bola para o Supremo Tribunal Federal, pedindo a suspensão do inquérito contra si, Temer se apega corretamente à parte mais controversa das acusações que sofreu: a questão do áudio gravado pelo empresário Joesley Batista. De fato, na gravação não há o raciocínio explícito da compra de silêncio de Eduardo Cunha. Se há cortes ou edição, conforme os peritos sustentam, eles não pioram a situação do presidente nesse ponto específico.
Em termos retóricos, o peemedebista também acertou ao insistir naquilo que todo motorista de táxi, para usar o mais batido termômetro de opinião pública viciada conhecido, já perguntou: e os delatores, o que estão fazendo livres em Nova York, ganhando dinheiro com a turbulência econômica decorrente da sua caguetagem? É uma pergunta justa, que coloca pressão sobre os métodos da Procuradoria-Geral da República de forma muito assimilável pelo grande público —a imagem de “crime perfeito” é pop.
Por outro lado, nenhum desses movimentos altera a gravidade da crise e dos fatos narrados. Temer insiste que não levou a sério a “fanfarronice” do “falastrão” que recebeu quase às 23h nas penumbras de sua casa, mas é inegável que Joesley narrou uma trama criminosa ao presidente, que limitou-se a aprovação tácita (“ótimo, ótimo”).