Domingo, 27 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 22 de março de 2019
Michel Temer vivia momentos de amargura antes de ser preso. Relativamente isolado depois de deixar o cargo, o ex-presidente gastava parte do tempo devorando jornais e reclamando que o atual governo e a mídia não davam a ele os devidos créditos pelo que considerava coisas boas que fez ao País. As informações são da colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo.
Ainda segundo a colunista, o próprio ex-ministro Moreira Franco (MDB-RJ), que foi preso também na quinta (21), aconselhava Temer a relaxar mais. Dizia que ele tinha que virar a página e se desapegar do tempo em que foi presidente.
O ex-presidente estava também distante de alguns de seus melhores amigos, de quem se afastou quando comandava o País.
Quando o ex-presidente Lula foi preso, em 2018, Moreira Franco, ainda no governo, comparou a situação dele à de um homem sobre um lago congelado. Ele dizia que o gelo começou a quebrar vagarosamente em torno de Lula, formando um círculo. Quando o último pedaço se quebrou, o petista afundou. E submerso no lago ficaria, congelado talvez para sempre.
Sérgio Moro
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, foi comunicado da ação da Operação Lava-Jato que prendeu o ex-presidente Michel Temer (MDB) um dia antes de os policiais federais efetuarem as prisões. A informação foi apurada pelo UOL com integrantes da investigação. Apesar de não haver obrigatoriedade de que o ministro seja comunicado de cada operação, é praxe que a direção-geral da PF (Polícia Federal) informe o ministro da Justiça sobre a realização de operações de grande repercussão.
A Operação Descontaminação foi deflagrada na quinta pela PF e resultou na prisão do ex-presidente Michel Temer, suspeito de ser o líder de uma organização criminosa que, segundo as investigações da Força Tarefa da Operação Lava-Jato do Rio de Janeiro, foi responsável por receber pelo menos R$ 1,8 bilhão em propina pagas por empresas com contratos governamentais. Ele nega seu envolvimento nos crimes.
Para além da praxe, Moro foi informado da operação envolvendo a prisão de Temer porque a PF estava enfrentando dificuldades para localizar alguns dos alvos da operação. O juiz federal Marcelo Bretas, que decretou as prisões, chegou a autorizar a interceptação de oito telefones ligados a Michel Temer.
A informação sobre o momento em que Moro recebeu a informação sobre a operação ganhou destaque após as especulações de que a ação teria sido uma resposta do ministro às declarações do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-SP). Isso porque um dos alvos da operação, o ex-ministro da Secretaria de Aviação Civil Moreira Franco também foi preso durante a operação. Ele é sogro de Maia.
Na véspera da operação, Rodrigo Maia e Moro trocaram farpas públicas e mensagens de texto por conta do andamento do projeto anticrime apresentado pelo ministro.
No dia 14 de março, Maia havia determinado a criação de um grupo de trabalho para avaliar o projeto de Moro. Na prática, a medida prolonga a tramitação do projeto na Casa, ao contrário do que Moro queria.
“O presidente Bolsonaro é quem tem que dialogar comigo. Ele está confundindo as bolas, ele não é presidente da República, ele não foi eleito para isso. Está ficando uma situação ruim para ele. Ele está passando daquilo que é a responsabilidade dele”, disse Maia na ocasião.
Anteriormente, Moro havia dito que iria conversar com Maia sobre a tramitação do pacote na Câmara dos Deputados. Moro, por sua vez, rebateu as declarações de Maia.
Internamente, a ideia de que a prisão de Moreira Franco tenha sido uma retaliação a Maia é vista com descrédito junto à equipe de Moro e à Força Tarefa da Lava-Jato no Rio.