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Por Redação O Sul | 20 de junho de 2019
A alta-comissária da ONU (Organização das Nações Unidas) para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, chegou na quarta-feira (19) à Venezuela para uma visita na qual espera-se que ela avalie a crise no país petroleiro. Antes da chegada de Bachelet, o governo liberou 18 manifestantes presos desde janeiro.
Durante sua estadia, a alta comissária se reunirá com o presidente Nicolás Maduro e com o opositor Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino por meia centena de países. A diplomata chegou à Venezuela a convite de Maduro, sob cujo governo – iniciado em 2013 – a ex-potência petroleira mergulhou na pior crise de sua história moderna.
Segundo a ONU, desde 2015 4 milhões de venezuelanos deixaram o país por causa da crise, marcada pela escassez de itens de primeira necessidade, uma hiperinflação que o FMI (Fundo Monetário Internacional) projeta em 10.000.000% para 2019, o colapso do sistema de saúde e falhas nos serviços públicos.
A visitante não fugirá da queda de braço entre Maduro e Guaidó, líder do Parlamento, que se autoproclamou presidente interino há cinco meses. Maduro reivindica que Bachelet se aproxime dele, enquanto Guaidó, que disse que se reunirá com a comissária na sexta-feira, afirma que sua presença é um “reconhecimento da catástrofe” que vive o país dono das maiores reservas petroleiras do mundo.
Bachelet também tem previsto se encontrar com “vítimas de abusos e violações dos direitos humanos”. Por ocasião de sua visita, ONGs convocaram mobilizações para a sexta-feira para denunciar a situação. “Vamos às ruas na sexta-feira”, disse Guaidó. A visita poderia “dar mais visibilidade à crise” e motivar a União Europeia a “aumentar a pressão” contra Maduro, disse o especialista Mariano de Alba.
País em estado crítico
A ex-presidente chilena chega a um país cuja economia encolheu à metade entre 2013 e 2018, e onde a produção de petróleo perdeu 2 milhões de barris diários na última década, segundo cifras oficiais. Uma situação que levou um quarto da população, o equivalente a sete milhões de pessoas, a precisar de ajuda urgente, segundo um relatório da ONU.
Estima-se que 22% dos menores de 5 anos sofram desnutrição crônica e 300 mil pacientes estejam em risco por falta de tratamentos e medicamentos, acrescenta esse estudo. “Estamos pedindo a Michelle Bachelet que veja o que está acontecendo no nosso país. Não é uma mentira”, disse Pedro Amado, porta-voz de um grupo de ex-petroleiros em greve há três semanas para reivindicar o recebimento de seu pagamento.
Bachelet, que prepara um relatório sobre a Venezuela, denunciou a “criminalização do protesto”. No começo deste ano, por ocasião de manifestações, ela fez denúncias sobre “o uso excessivo da força, os assassinatos, as prisões arbitrárias e torturas” por parte de organismos de segurança.
Parentes de presos políticos (693, segundo a ONG Fórum Penal) pedem que ela interceda por sua liberdade. Maduro nega a existência de “presos políticos”. O Parlamento, único poder nas mãos da oposição, pediu que Bachelet estabeleça um escritório permanente na Venezuela.