O ator e diretor Miguel Falabella protestou na noite desta segunda-feira (14), antes da sessão para convidados do musical “Memórias de um Gigolô”, contra a decisão judicial que vetou os atores Matheus Braga, de 13 anos, e Kaleb Figueiredo, 10 anos, na estreia da produção.
A produção vem buscando reverter a medida – determinada pelo juiz Flavio Bretas Soares, juiz da Infância e Juventude do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região – em segunda instância. O argumento para a proibição, segundo a produção, foi a presença de suposta linguagem inadequada, que poderia prejudicar o desenvolvimento psíquico do jovem ator.
Comemorando o início da temporada, Falabella (diretor e autor das letras da montagem) começou sua fala dizendo que o momento era de “celebração”, apesar da medida judicial que impediu que os dois atores mirins – que se revezam no papel do jovem Mariano, o protagonista – de subir ao palco.
“Uma das razões alegadas foi de que usava a palavra masturbação no texto, e isso poderia prejudicar o desenvolvimento psíquico dos menores”, disse Falabella, desencadeando gargalhadas na plateia.
“O teatro, senhor juiz”, prosseguiu ele, aplaudido, “muito pelo contrário, ensina esses dois jovens talentos a dominar a língua, a se expressar com clareza, a aguçar o raciocínio e a olhar o mundo com os olhos da poesia. E o teatro musical, ainda por cima, os ensina música.”
O diretor disse ainda que era “lamentável” que o juiz desconhecesse que justiça e teatro eram filhas “do mesmo berço”. Também destacou que ambos os atores mirins “têm longo currículo e foram acompanhados pelos pais” durante toda a produção.
Matheus Braga, titular do personagem, tem seis musicais no currículo, entre eles “Miss Saigon”, que interpretou aos cinco anos, “O Rei Leão” e “Um Violonista no Telhado”.
Antes de agradecer ao elenco, que, segundo o diretor, se dedicou para realizar as mudanças de última hora no espetáculo, Falabella classificou a decisão judicial de “arbitrária e retrógrada”.
“Para mim, que comecei a carreira no final dos anos 1970 e vi o que o regime autoritário é capaz de fazer com o teatro, sua decisão é assustadora”, afirmou, endereçando-se ao juiz Flavio Soares. “O teatro é, antes de mais nada, o espelho de uma civilização. Se sua intenção era a fama, pois que lhe seja feita à vontade. O senhor ganha uma patética e tristonha citação na história do teatro brasileiro.” (Folhapress)