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Milei, um libertário no poder

A vitória política de outsiders se tornou um hábito em tempos recentes. (Foto: Reprodução)

A vitória política de outsiders se tornou um hábito em tempos recentes, levando uma lista de pessoas com diferentes visões e propostas para o comando de muitos países. São nomes da esquerda, direita, populistas, conservadores e progressistas, porém, na Argentina foi inaugurada a chegada de uma nova vertente política ao comando de um país. O ocupante da Casa Rosada é um libertário.

A situação é tão nova e inusitada que analistas e jornalistas políticos se debatem para encaixar Milei em algum conceito. Já foi taxado de extrema-direita, conservador e até fascista, porém ninguém conseguiu ao certo defini-lo, o que expõe um preparo precário de muitos no que tange ao conhecimento de conceitos políticos, mais um triste sinal destes tempos rasos que vivemos.

A comparação com Bolsonaro é constante, uma vez que possuem estilo de comunicação calibrado para o embate com o sistema. As semelhanças, entretanto, estão apenas neste campo. Enganam-se aqueles que julgam Milei como o Bolsonaro portenho. Existe uma avenida que divide libertários do conservadorismo social, motor do bolsonarismo. Estão em polos tão distantes que podem inclusive ser considerados antagônicos.

Para além desta agenda social que separa ambos, há no argentino uma crença real na privatização e no controle dos gastos públicos, pontos que passaram longe do último governo brasileiro. Além disso, em Brasília havia uma relação umbilical entre militares e governo, baseado na crença de que os fardados são bons gestores, o que se provou uma falácia. Na Argentina, certamente não veremos posições civis nas mãos dos militares.

As relações exteriores também são ponto de divergência entre ambos. Milei convidou e recebeu em sua posse o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Bolsonaro preferiu a companhia de Putin enquanto esteve no poder, assim como faz Lula atualmente. No Brasil, ambos os presidentes deixaram o país em situação desconfortável diante das democracias mundiais quando optaram a se alinhar a autocracias. A Argentina preferiu um caminho oposto àquele trilhado por Lula e Bolsonaro.

A distância responsável da China também é um ponto de divergência. Enquanto Milei mantém uma postura cautelosa, o Brasil fez movimento oposto. Milei, ao contrário dos peronistas, não deseja transformar seu país em uma Argenchina, como dizia Sérgio Massa, candidato derrotado, porém, olhará para Pequim com ceticismo e responsabilidade, com foco na soberania de seu país.

O libertário é essencialmente um liberal em termos econômicos e neste caminho Milei buscará soluções para a economia argentina, que se encontra em situação de agonia. A trilha a ser percorrida passa pelo controle dos gastos públicos e diminuição do tamanho do Estado, abrindo caminhos para que a economia floresça por meio da própria sociedade como motor de um país próspero. O caminho não é fácil, especialmente em um país refém dos benefícios providos pelo governo.

Em um Brasil que vive o pior dos antagonismos entre dois tipos rasos de populismo, a solução argentina joga luz em opções que estão além das definições rasas apresentadas em solo tupiniquim. Algo que significa uma ótima notícia para os argentinos.

Márcio Coimbra é Presidente do Instituto Monitor da Democracia e Vice-Presidente da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig). Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal

 

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