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Milhares de meteoros: astrônomos preveem tempestade épica nesta semana

Caso o cenário mais otimista dê certo, até 100 mil meteoros por hora devem atingir nossa atmosfera. (Foto: Divulgação)

Astrônomos tentam prever há anos uma “tempestade” a partir da chuva de meteoros Tau-Herculids. O fenômeno raro e tão aguardado pode acontecer nesta semana, com possibilidade de milhares de “estrelas cadentes” por hora, se as projeções se confirmarem.

Caso o cenário mais otimista dê certo, até 100 mil meteoros por hora devem atingir nossa atmosfera, a uma velocidade de 16km/s, considerada baixa. Assim, os riscos luminosos fazem um percurso lento e longo, ficando no céu mais tempo.

O pico da possível tempestade está previsto para ocorrer entre esta segunda e terça-feira (30 e 31 de maio). O fenômeno será melhor observado do hemisfério Norte, mas não está descartada a possibilidade dele gerar um belo espetáculo em céus brasileiros.

A Tau-Herculids é formada por detritos do cometa 73P/Schwassmann-Wachmann 3 (SW3), que está se despedaçando. Todos os anos nesta época, entre o final de maio e o início de junho, a Terra cruza a trilha de poeira e pequenas rochas que ele deixou para trás em passagens anteriores.

Normalmente, essa chuva é mais discreta, com dois ou três meteoros por hora. “Houve atividade mais intensa dela em 1930, quando foi vista pela primeira vez. Depois, ficou fraquíssima”, diz o astrônomo amador Lauriston Trindade, membro da Bramon (Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros).

Tempestade ou chuva

Faz quase 200 anos que não presenciamos um fenômeno desse tipo e intensidade. O último aconteceu em 1833, na chuva Leonids —que gerou pânico nos Estados Unidos (imagine, naquela época, acordar de madrugada com milhares de luzes riscando o céu; seria o fim do mundo?).

“Tempestade” é o termo para uma chuva de meteoros que apresenta um surto incomum, extremamente intenso. Elas surgem, geralmente, após uma fragmentação de seu asteroide ou cometa “pai” —processo que deixa uma densa nuvem de partículas ejetadas no espaço.

“Com o tempo, essa nuvem se dispersa na órbita do corpo parental, formando as chuvas de meteoros anuais. Então, quanto mais recente for a fragmentação, mais densa será a nuvem, e mais intensa será a tempestade de meteoros gerada por ela”, explica a Bramon.

Cometa

O cometa SW3 foi descoberto em 1930, pelos observadores alemães Arnold Schwassmann e Arno Arthur Wachmann. Calculou-se que ele tinha um núcleo de aproximadamente 1,5km de diâmetro — relativamente pequeno —, e orbitava o Sol a cada 5,4 anos.

Mas desapareceu dos nossos céus por décadas, voltando a ser visto apenas em 1979, com uma aparência normal.

Em 1995, porém, seu brilho teve um aumento súbito: ele estava cerca de 600 vezes mais brilhante, se tornando visível até a olho nu. Até então, era apenas uma manchinha em telescópios.

“Um mês depois, astrônomos descobriram que o núcleo havia se partido em alguns grandes blocos durante a viagem. As observações indicavam ao menos quatro grandes fragmentos, sendo que dois deles estavam em franco processo de desintegração”, lembra Trindade.

Em 2006, ao ser aquecido em seu retorno para o interior do Sistema Solar, a situação piorou: em março, já eram oito fragmentos; em abril, dezenas; em maio, quase 70, ao longo de uma imensa trilha.

Os maiores deles continuam em órbita, agindo como um núcleo múltiplo. Eventualmente, o cometa pode se desintegrar completamente e deixar de ser observável.

“As rupturas geraram fragmentos de diversos tamanhos; uma imensa quantidade de poeira foi lançada ao espaço. Cálculos aprontam que na noite de 30 para 31 de maio, a Terra vai cruzar verticalmente uma densa região de detritos”, acredita a Bramon.

Quando essas pequenas rochas atingem a atmosfera terrestre em alta velocidade, são literalmente queimadas e vaporizadas pelo atrito, gerando o fenômeno luminoso chamado de meteoro (as populares “estrelas cadentes”).

Incertezas

Desde a fragmentação de 1995, astrônomos realizam cálculos para prever esta tempestade. “A grande dificuldade para a previsão de datas e taxas de meteoros é justamente saber qual foi a velocidade de ejeção das partículas durante a quebra dos grandes blocos”, explica Trindade.

Estudos indicam que, neste ano, a Terra atravessará a nuvem de detritos deixados pelo cometa 73P em cinco passagens anteriores: 1892, 1930, 1941, 1979 e 1995 (quando houve a ruptura).

“Todas as expectativas apontam que será uma atividade bem elevada. Mas sabemos que há chances que os cálculos falhem, porque é algo inédito e não temos dados suficientes”, completa.

O espetáculo ainda não é garantido. De acordo com a Nasa, será um momento “tudo ou nada”: se, durante a quebra do cometa, as partículas foram ejetadas do núcleo a uma velocidade de pelo menos 354 km/h, teremos uma belíssima tempestade. Caso contrário, elas não atingirão nossa atmosfera — ou seja, não veremos meteoros.

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