Quinta-feira, 24 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 13 de junho de 2020
Milhares de manifestantes antirracismo reuniram-se no Centro de Paris, neste sábado (13), para denunciar a violência da polícia, mantendo a onda de indignação que tomou o mundo após a morte do homem negro de 46 anos George Floyd nos Estados Unidos.
A questão racial despertada pela morte de Floyd sob custódia da polícia ressoou na França, especialmente nos vulneráveis subúrbios da cidade, onde grupos de direitos humanos afirmam que acusações de tratamento violento da polícia francesa contra moradores, frequentemente com raízes imigrantes, permanecem amplamente sem serem endereçados.
Na capital francesa, cerca de 15 mil pessoas se concentraram na Praça da República no início da tarde, após convocação do Comitê Adama Traoré, jovem morto pela polícia em 2016. Os participantes do ato pretendiam realizar uma marcha até a Praça da Opéra, um percurso de cerca de 2,5 quilômetros pelo centro de Paris. No entanto, a polícia cercou as ruas em torno do ponto de partida do cortejo, impedindo que os manifestantes pudessem circular pelas ruas em direção ao destino previsto.
Para Jean-Luc Mélenchon, líder do partido da esquerda radical França Insubmissa, a atitude da polícia foi “odiosa”. “É uma maneira de incentivar um clima pesado na França”, afirmou, apelando às autoridades que permitissem as pessoas se deslocar.
O Ministério do Interior indicou que a marcha não foi declarada e que, devido à pandemia de coronavírus, reuniões públicas de mais de dez pessoas estão proibidas. No entanto, Assa Traoré, líder do Comitê Adama Traoré e irmã do jovem morto pela polícia em 2016, afirmou que as autoridades foram informadas sobre o trajeto do cortejo.
Um cartaz carregado pela multidão na Praça da República dizia: “Espero que não seja morto por ser negro hoje”. Outro carregava uma mensagem para o governo: “Se você semear injustiça, colherá revolta”.
Assa Traoré discursou à multidão: “A morte de George Floyd ecoa com força na morte do meu irmãozinho na França”, disse. “O que está acontecendo nos Estados Unidos acontece na França. Nossos irmãos estão morrendo”.
A família de Traoré afirma que ele foi asfixiado quando três policiais prenderam-no no chão com o peso dos seus corpos. As autoridades afirmam que a causa da morte não está clara.
O ministro do Interior, Christophe Castaner, disse anteriormente nesta semana que reconhece que há “suspeitas comprovadas de racismo” nas agências policiais da França.
Protestos também ocorreram em outros países neste sábado, incluindo em diversas cidades australianas, Taipé, Zurique e Londres.
Morte de Adama Traoré
A militante discursou na Praça da República, convidando o público a “denunciar a recusa da justiça” em apontar os culpados pela morte do irmão, além a “a violência social, racial e policial”. A jovem também exigiu uma nova investigação sobre os policiais envolvidos no caso. Ninguém foi responsabilizado pela morte de Adama Traoré até hoje.
Na multidão, jovens utilizavam camisetas pretas com a mensagem: “Justiça”. Manifestantes carregavam cartazes com frases como “Enquanto não tivermos justiça, vocês não terão paz” ou “Queremos ser a última geração a protestar contra o racismo”.
No final da tarde, muitos manifestantes desistiram de marchar e deixaram a Praça da República pelos poucos acessos permitidos pelos policiais. Centenas se reuniram em torno de um palanque com carro de som organizado pelo Comitê Adama Traoré e continuaram o ato de forma pacífica.
Na insistência de alguns manifestantes em passar pelas ruas bloqueadas, a polícia os cercou e atirou bombas de gás lacrimogênio para dispersá-los. Alguns reagiram atirando garrafas e pedras e confrontos foram registrados nas últimas horas da manifestação.
No início da noite, quase cinco horas depois do início da mobilização, um grupo de black-blocs vandalizou a vitrine de uma loja de telefonia nos arredores da Praça da República.