A Polícia Federal identificou que o “gabinete de crise” concebido por militares bolsonaristas em 2022 seria formado por cinco generais e 11 coronéis. Eles teriam a missão de “pacificar” o País após um golpe de Estado que previa o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de seu vice Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O plano, intitulado “Punhal Verde e Amarelo” pelos golpistas, incluía uma estratégia para “influenciar a opinião pública” e “controlar” as ações de comunicação do governo e, assim, “evitar ilações que desinformassem a população”. O plano era incluir um promotor no “gabinete do golpe” e criar um braço para acompanhar decisões do Congresso Nacional e buscar apoio político ao decreto de ruptura.
Os três generais que integrariam a cúpula de tal gabinete – Mário Fernandes, Augusto Heleno e Braga Netto – foram indiciados por tentativa de golpe gestada no governo Bolsonaro. A PF imputa a Bolsonaro, a 11 aliados e a 25 militares supostos crimes abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de Estado e organização criminosa.
Sobre o indiciamento, a defesa de Braga Netto alegou “indevida difusão de informações relativas a inquéritos, concedidas ‘em primeira mão’ a determinados veículos de imprensa em detrimento do devido acesso às partes diretamente envolvidas e interessadas”. Fernandes e Heleno não se manifestaram.
A montagem da estrutura do “Gabinete Institucional de Gestão de Crise” ficou a cargo de Fernandes que exercia, então, o posto de secretário executivo da Secretaria-Geral da Presidência na gestão Bolsonaro.
O grupo teria um braço para “monitorar” decisões do Congresso Nacional. O objetivo seria o de “buscar o máximo de apoio parlamentar” para o decreto de golpe. E a intenção era a de arrastar, para seu núcleo de Assessoria Jurídica, a Secretaria Especial para Assuntos Jurídicos, a Advocacia-Geral da União e até um promotor do Ministério Público Militar, conforme esboçou Fernandes, preso na Operação Contragolpe.
Perplexidade
Ao Estadão, o promotor Nelson Lacava Filho, citado na minuta do gabinete de crise, falou em “absoluta perplexidade e constrangimento” com a inserção de seu nome do documento. “Jamais promovi qualquer ação em detrimento do estado democrático de direito e, muito menos, quanto à vida de qualquer pessoa”, afirmou.
A meta do grupo seria “estabelecer diretrizes estratégicas, de segurança e administrativas para o gerenciamento da crise institucional”.
O gabinete teria, ainda, o objetivo de “proporcionar ao presidente da República (Jair Bolsonaro) maior consciência situacional das ações em curso a fim de apoiar o processo de tomada de decisão”.
Entre as diretrizes estratégicas do gabinete e constavam o estabelecimento de ligações com ministérios para ações coordenadas das pastas, “além da articulação de apoio parlamentar para aprovar medidas políticas necessárias e ações previstas no possível decreto de golpe”.
O núcleo empenhado na ruptura pretendia, também, segundo a PF, estabelecer uma rede de inteligência para atuar como “gestor de informações, sensor e catalisador de conhecimentos de inteligência oriundos da coleta de informações das instituições e da população civil”.
Segundo o inquérito da Operação Contragolpe, os militares estavam dispostos a instalar o comitê no dia 16 de dezembro de 2022 – um dia após integrantes das Forças Especiais
Segundo PF, “gabinete de crise” despacharia em sala de reunião suprema, no 2º piso do Palácio do Planalto do Exército, os “kids pretos”, colocarem em prática um audacioso plano ajustado na casa do então ministro da Defesa, general Braga Netto: a prisão e execução do ministro Moraes.
A ação acabou abortada de última hora, com militares já a postos, porque uma votação no Supremo terminou mais cedo, frustrando os golpistas.
O líder do grupo, conforme a investigação, seria o general Augusto Heleno, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Braga Netto ficaria com a coordenação da operação. O general Fernandes assumiria a Assessoria Estratégica, junto do coronel Élcio Franco – ex-número 2 do Ministério da Saúde na gestão Bolsonaro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.